30/04/2008

Ministro da Cultura Gilberto Gil visita a Escola Yorenka Ãtame Saberes da Floresta e a Comunidade Apiwtxa

Arquivo pessoal












Nesta semana, entre os dias 28 de abril e 2 de maio, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, vai aos estados do Amapá, Roraima e Acre para lançar programas e projetos para o fortalecimento das atividades culturais na Região Norte.

No Acre e no Amapá, irá assinar acordos de cooperação do Programa Mais Cultura com os governos dos estados, anunciar projetos culturais e conhecer ações de Pontos de Cultura, comunidades indígenas e quilombolas. Já em Roraima, vai lançar, em parceria com o Banco da Amazônia, o Programa Amazônia Mais Cultura, com linhas de crédito, microcrédito e patrocínio para atividades culturais de toda a região.

Esse pacote de medidas é uma das estratégias do Ministério da Cultura para ampliar o apoio e os investimentos do Governo Federal nos estados do Norte. A partir da política de descentralização orientada pelo MinC, nos últimos cinco anos, os investimentos na região aumentaram 13 vezes - de R$ 2,4 milhões, em 2003, para R$ 31 milhões, em 2007.

“Historicamente, o Estado brasileiro investia pouco na Região Norte. Por um lado, isso se devia aos governos, mas por outro, era conseqüência da demanda ainda incipiente da própria região, que enviava poucos projetos ao MinC”, explica o ministro Gilberto Gil. “Nesses cinco anos, já conseguimos mudar parte desse quadro, agora queremos multiplicar esses avanços. Por isso, além do Programa Mais Cultura, que vai unir esforços das três esferas de governo e da sociedade civil para fortalecer o desenvolvimento cultural da região, também faremos nesse ano uma série de oficinas para que cidadãos e produtores do Norte possam se capacitar na elaboração, produção, captação e gestão de projetos culturais”, completa.

AGENDA

No dia 1º de maio, o ministro da Cultura segue para Marechal Thaumaturgo (AC), onde conhecerá a Escola Yorenka Ãtame - Saber da Floresta, iniciativa desenvolvida pela comunidade indígena da Reserva Ashaninka, que funciona como espaço de formação, educação, intercâmbio e difusão de práticas de manejo sustentável dos recursos naturais da região do Alto Juruá. Na ocasião, ele anunciará parceria com a Rede de Povos da Floresta, organização da sociedade civil que desenvolve ações de inclusão digital, de preservação ambiental e defesa dos povos tradicionais em cerca de 200 comunidades.

A parceria prevê o lançamento de 80 prêmios no valor de R$ 15 mil, cada um, para Povos da Floresta e Culturas Tradicionais. A idéia é apoiar comunidades que ainda não têm estrutura para se tornar Pontos de Cultura, disponibilizando recursos para o desenvolvimento de suas ações culturais. O projeto está em fase de elaboração e deve ser lançado ainda no segundo semestre deste ano.

Na tarde do dia 1º de maio, o ministro Gil vai visitar o Ponto de Cultura Associação Ashaninka do Rio Amônia, na comunidade indígena Apiwtxa. A comunidade fica a aproximadamente 80Km de Marechal Thaumaturgo e 350km de Cruzeiro do Sul, nas proximidades do limite com a Reserva Extrativista do Alto Juruá e o assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Demarcada em 1992 pela Fundação Nacional do Índio (Funai), a aldeia abriga 400 habitantes, o que representa cerca de 80% dos ashaninkas brasileiros. No dia 2 de maio, encerra sua missão oficial na Região Norte, retornando ao Rio de Janeiro.

SAIBA MAIS:

Cultura no Norte
Ministro da Cultura viaja a estados da região para lançar pacote de medidas para o desenvolvimento de ações culturais
, Publicado por Comunicação Social/MinC, 28/04/2008

Ministro da Cultura chega nesta quarta-feira a Rio Branco, Publicado por Agência de Notícias do Acre, com informações da Assessoria do MinC, 29/04/2008

23/04/2008

Apiwtxa participa da Exposição Amazônia Brasil em Nova York



















Exposição Amazônia Brasil em Nova York será o maior evento já realizado no exterior sobre a região

Uma das mais importantes exposições já realizadas no mundo sobre a região, a Amazônia Brasil, acontece em Nova York, de 22 de abril a 13 de julho de 2008. A exposição, em sua oitava edição, é organizada pelo Projeto Saúde e Alegria-PSA, e pelo Grupo de Trabalho Amazônico-GTA, que representa mais de 600 entidades da Amazônia brasileira. A direção é do médico Eugênio Scannavino Netto, coordenador do PSA, e execução da Fare Arte. A direção de arte da exposição principal, que ocorre no Píer 17, é de Gringo Cardia e grande acervo de fotos de Araquém Alcântara e Luiz Cláudio Marigo.

Conta com a parceria de diversas instituições de pesquisa, entre elas o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA e Museu Paraense Emílio Goeldi, além da colaboração das principais ONGs ligadas à Amazônia.

Um dos principais objetivos da exposição é trazer benefícios diretos às comunidades amazônicas, os verdadeiros guardiões da floresta, e valorizar as iniciativas já existentes de desenvolvimento sustentado. Também quer sensibilizar para a urgência da conservação da Amazônia na regulação climática e para o futuro do planeta.

Em Nova York o principal patrocinador será a Alcoa e Alcoa Foundation. O evento também tem a colaboração das empresas IBM e American Express Foundation e o reconhecimento do governo brasileiro, por meio dos Ministérios do Meio Ambiente, Relações Exteriores e da Cultura. Nesta edição conta também com o apoio de relevantes instituições americanas como o World Financial Center, Universidade de Nova York, a Organização das Nações Unidas-ONU, Smithsonian Institute, Central Park e o Museu do Índio Americano.

A exposição Amazônia Brasil em Nova York será a maior versão internacional da mostra, que já passou pela França (Paris), Suíça (Lausanne) e Alemanha (Bavária), depois de São Paulo, onde teve início em 2002. Com expectativa de participação de aproximadamente 400 mil pessoas, a exposição ocorrerá em vários pontos da cidade norte-americana, incluindo uma extensa programação multicultural, com a presença de artistas da música e do artesanato da região amazônica, festival de cinema, exposição fotográfica, entre outras atividades.

AGENDA

As Vozes da Amazonia Brasileira com Benki Ashaninka
Em parceria com o Smithsonian’s National Museum of the American Indian
Quinta-feira – 1 de maio
Horário: 16 h
Local: No Smithsonian’s National Museum of the American Indian

SAIBA MAIS:
Amazônia Brasil, site da Exposição
Exposição Amazônia Brasil em Nova York será o maior evento já realizado no exterior sobre a região, publicado pela Revista Fator, em 23/04/2008

11/04/2008

Amazônia Peruana: O começo do fim

Por José Carlos do Reis Meirelles Júnior

















Fui convidado pelos índios Ashaninka do rio Amônea para participar de uma reunião na aldeia Sawawo, nas cabeceiras do Rio Amônea, em território Peruano, praticamente a alguns metros além da linha de fronteira Brasil-Perú. Entre outras coisas seriam discutidas formas de desenvolvimento sustentável dos povos indígenas da fronteira, maneira delicada de dizer aos índios Ashaninka do Peru deixar de explorar madeira em suas terras.

Já sabia de antemão da presença de madeireiras legais e ilegais explorando mogno nas cabeceiras dos rios Juruá, Envira, Purus e seus afluentes. Mas tudo de ruim que imaginava não chega nem perto da realidade!

O que ocorre nesta região é um crime monumental contra a natureza, aos índios, a fauna e um atestado da mais pura irracionalidade de como nós, civilizados, tratamos o mundo, casa de todos nós.

Vamos por partes:

- A maioria das comunidades indígenas da Amazônia Peruana está envolvida com a exploração de madeira. De duas formas. Primeiro cedem suas terras para um Plano de Manejo Sustentável, em troca da regularização fundiária. O Governo Peruano reconhece as terras, mas não dá um tostão para regularizá-las. Os madeireiros fazem isso em troca de um plano de manejo. Segundo: são usados como mão de obra no serviço pesado da localização e corte da madeira.

- Os madeireiros plantam comunidades indígenas em pontos estratégicos, solicitam o reconhecimento das terras e as regularizam “para os índios” com o plano de manejo imediatamente após. Tudo de acordo com as leis Peruanas.

-Existem poucas madeireiras legais na região, como a VENAO, por exemplo, que explora madeira na comunidade Sawawo. Acontece que a maioria das madeireiras é ilegal, los ilegales, como chamam os patrícios peruanos. Como quase 100% da madeira são exportadas, e quem é ilegal não pode exportar quem está comprando toda esta madeira? As madeireiras legais, que fazem um plano de manejo bonitinho em uma comunidade, conseguem a certificação e exportam uma quantidade enorme de madeira certificada!

-Os madeireiros ilegais, além da madeira exploram a carne de caça e peixe, que são vendidos em Pucalpa.Toneladas de carne de caça, jabotis, couro de caça e peixe, são levados a Pucalpa para abastecer a cidade. O peixe está sendo pescado com dinamite nas cabeceiras dos rios. Por lá nada parece ser proibido!

-Da aldeia Sawawo, como exemplo, vai-se de caminhão até Nova Itália, na beira do Ucayali e daí pra Pucalpa. A região está toda cortada de “carreteras”, o que facilita o transporte de madeira, caça e o que mais se quiser levar.

-É tamanha a exploração de madeira que os madeireiros ilegais estavam roubando madeira do plano de manejo da aldeia Sawawo. Alguns Ashaninka se reuniram e parece que mataram alguns “ilegales”. Que também eram índios! Agora vigiam sua aldeia com uma guarda armada 24 horas por dia, com medo de retaliação e não podem mais subir o rio Amônea, nas cabeceiras, para pescar, com medo de serem mortos!

- Os índios da Amazônia Peruana estão metidos na exploração madeireira por pura falta de alternativa econômica e abandono do governo Peruano. Estão sendo algozes deles mesmos! Os madeireiros são o Estado na região. Esta é a triste verdade.

-As cabeceiras do Juruá, Purus e Envira, alem de abrigar várias comunidades indígenas conhecidas, abrigam, ou melhor, abrigavam, vários povos indígenas isolados, que em defesa de seu território atacam os invasores e estão sendo sistematicamente mortos pelos madeireiros, que também são índios contatados e bem armados pelas firmas madeireiras.

-Os povos isolados da região estão migrando para o território brasileiro, que na fronteira com o Peru é uma faixa contínua de áreas preservadas, na maioria delas terras indígenas. E do lado de cá, além dos índios contatados e moradores de reservas extrativistas existem índios isolados. Os migrantes vão encontrar então os mesmos personagens do lado de cá que mataram seus parentes de onde vieram. Por não saber distingui-los vão atacá-los e sofrer retaliações. De novo índios vão matar índios!

-No final do ano passado e início deste algumas agressões de grupos isolados a índios em território brasileiro já ocorreram. Além de ataques ao pessoal da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) que cuida das terras dos isolados, no lado brasileiro.

-O Governo Brasileiro e o Governo Peruano sabem de tudo isso, mas não mexem uma palha para ao menos tentar solucionar a questão. Tudo fica nos protocolos de intenção, em atas de reuniões, em salas refrigeradas de encontros binacionais.

Para que os europeus e japoneses tenham seus móveis de madeira nobre e para os norte-americanos enterrarem seus mortos em caixões de mogno, uma das regiões mais lindas da Amazônia, que são as cabeceiras dos grandes tributários do Amazonas, os rios Juruá, Purus e Madeira (no Peru e Bolívia), as terras firmes, que eram reservas intocadas até bem pouco tempo, viraram uma região violenta, onde índios matam índios e a paz é uma lembrança distante.

Senhor Europeu, embutido em seu lindo móvel de mogno estão vários índios mortos.

Senhor Japonês, em sua linda casa de madeira de lei vagam fantasmas de povos isolados que morreram sem saber por que.

Senhor Norte-Americano, em seu caixão de mogno, além do cadáver do seu querido familiar estão sendo enterrados juntos outros tantos, de povos que não sabem de sua existência.

Quem sabe se a gente deixar de achar “chic” um móvel de mogno, de imburana, de ipê, de cedro rosa... Deixar de fazer varandas com esteios de maçaranduba e não se escandalizar com uma mesa de plástico, um pedaço considerável da Amazônia ainda possa ser preservado e os índios que restaram possam recolher os sobreviventes, refazer suas vidas e ser de novo um povo feliz!

Está em suas mãos.


Meirelles – Abril de 2008
Reproduzido do site da Biblioteca da Floresta Marina Silva (http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br/biblioteca)