26/10/2015

INDÍGENAS ASHANINKA PROTEGEM SUA TERRA COM TECNOLOGIA DIGITAL


Como resultado de uma parceria entre a Associação Ashaninka do Rio Amônia – Apiwtxa, a University College London – UCL e a Comissão Pró-Índio do Acre – CPI/AC, os Ashaninka da aldeia Apiwtxa, Terra Indígena Kampa do Rio Amônia (município de Marechal Thaumaturgo - AC), estão protegendo sua terra com o auxílio de tecnologia digital.
Interface iconográfica do aplicativo no smartphone
O projeto de monitoramento territorial da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia com o uso de tecnologia digital teve início em janeiro de 2015. Desde então, a comunidade Ashaninka está recebendo treinamento pelo grupo Ciência Cidadã Extrema (ExCiteS) da University College London para que aprimorem suas estratégias de proteção do seu território por meio do uso de um aplicativo de proteção territorial instalado em smartphones. Na primeira semana de setembro de 2015 as organizações participantes realizaram uma reunião conjunta na qual firmaram um protocolo para dar início oficial ao processo de coleta de informações sobre invasões no território Ashaninka.

O grupo ExCiteS trabalha com a aplicação de uma metodologia participativa inovadora e com o desenvolvimento de um sofware adaptado à realidade dos povos da floresta. Assim, desde janeiro, os Ashaninka tiveram a possibilidade de construir seu próprio aplicativo de monitoramento, com categorias e ícones desenhados por eles para identificar invasões em seu território. Também, estão recebendo treinamento no uso do smartphone e na transferência de informações dos aparelhos para o computador e para a Internet.
Dinâmica para a construção do aplicativo
A tecnologia desenvolvida pelo ExCiteS permite o registro instantâneo das observações em campo, bem como a captura automática da coordenada geográfica (localização), de imagem e de depoimento oral. Essas informações podem ser facilmente repassadas às autoridades por meio da Internet ou de SMS. Segundo uma das lideranças da Terra Indígena: “Havia uma época em que tínhamos que viajar longas distâncias para fazer uma denúncia às autoridades e muitas vezes não acreditavam no que estávamos dizendo. Hoje, com o uso dessas novas tecnologias, podemos ter provas do que está acontecendo muito mais facilmente e temos como informar o Estado rapidamente”.

A Comissão Pró-Índio do Acre – parceira histórica dos povos indígenas – está participando do processo desde o início, apoiando o projeto em sua concepção e também com a elaboração de mapas estratégicos e doação dos equipamentos necessários ao funcionamento do projeto aos Ashaninka.
Ícone desenhado pelos Ashaninka para monitorar as invasões
de caça com cachorro
Além desta iniciativa, há outros parceiros apoiando a comunidade com tecnologia de ponta para que mantenham a integridade dos recursos naturais de sua terra e para que garantam o usufruto exclusivo por seus habitantes, como previsto em lei. É o caso da House of Indians, organização não-governamental situada na Bélgica, que doou recentemente GPS rastreadores e câmeras de vigilância para a comunidade. Os GPS rastreadores permitem que se localizem recursos ou objetos furtados em qualquer lugar do globo, e as câmeras de vigilância – já instaladas em locais estratégicos do território - operam 24 horas por dia e registram qualquer movimento que seja realizado em suas proximidades. Além disso, as atividades de monitoramento territorial serão fortalecidas com os recursos advindos do projeto Alto Juruá, do Fundo Amazônia, recentemente aprovado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. Desse modo, os Ashaninka da Apiwtxa - reconhecidos internacionalmente pela excelência no manejo e gestão de seu território - ganham mais um conjunto de ferramentas e estratégias para assegurarem a proteção de sua terra.

(Fotos e texto de Carolina Schneider Comandulli)



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