06/08/2009

Projeto: Kowitsi Cultura Tradicional Ashaninka

por Francisca Fátima Souza Cruz e
Maria Alexandrina da Silva Pinhanta*

Foto Apiwtxa
Este projeto tem por objetivo dar prosseguimento ao trabalho da escola Apiwtxa, de estimular as discussões sobre a preservação do patrimônio cultural e dos recursos naturais do povo Ashaninka, revitalizar o conhecimento da cerâmica, prática que estava sendo esquecida pelas mulheres Ashaninka do Rio Amônia.

Duas oficinas foram realizadas durante 15 dias, uma de pesquisa sobre a cerâmica com os professores e alunos e outra sobre a produção de cerâmica envolvendo mais pessoas da comunidade, como as mulheres conhecedoras da ciência da cerâmica, mulheres jovens e crianças.

A primeira oficina foi realizada junto com os quatro professores da comunidade, dois agentes de saúde e cinco alunos. Nessa etapa discutimos a importância dessa pesquisa junto às mulheres que ainda detém esse conhecimento e trabalhamos na elaboração do roteiro para todo o processo da confecção da cerâmica.

Nestas duas atividades teve a participação de cinco anciãs ceramistas ashaninka do Rio Amônia e duas ashaninka do Rio Breu, a participação delas se deu em todo processo, desde a explicação dos conhecimentos da cerâmica, como das regras, identificação dos locais de onde se encontra o barro, a coleta, preparo, acabamento e queima.

Reunião com a Comunidade

No dia 14 de julho de 2009, sentamos, Fátima, Alexandrina, Dora, Otxe, Hatã, Wanderléia, Valéria e Eliane junto com a Assessora Malu Piñedo Ochoa reunimos para fazer o planejamento dos dias de trabalho e de como iria se dar a oficina de pesquisa e da produção de cerâmica, marcamos uma reunião com a comunidade para o dia seguinte para explicar sobre o projeto e quem iria participar diretamente.

No dia 15 as 08h30min da manhã, a Alexandrina começou a reunião falando da necessidade de fazer esse projeto sobre a cerâmica ashaninka, que se deu a partir de um estudo feito por ela e pela Fátima durante os trabalhos de campo da formação como professora e gestora de projetos. Durante essa reunião foi explicado também à respeito da participação dos ashaninka do Rio Breu e Rio Envira. Só que devido à distância e à dificuldade de comunicação com os Ashaninka do Envira, não foi possível a participação deles nessa primeira oficina, somente com os Ashaninka do Breu.

Na reunião deu para perceber que todas as mulheres estavam empenhadas em participar, algumas já sabem fazer cerâmicas e elas seriam as mestras e outras como aprendiz.
Na reunião foi feito o levantamento do número de mulheres que iriam participar da oficina.

A reunião terminou as 11h00min da manhã e logo em seguida um grupo de mulheres foi para mata tirar o garipé (patxarama), junto com o cineasta, chegamos a aldeia às 2 horas da tarde.

Construção do Roteiro e registro das informações

Ainda no mesmo dia as 15 horas da tarde fomos fazer o roteiro da pesquisa e entrevistar as velhas que sabem fazer à cerâmica e os homens foram tirar lenha para queimar o garipé.

O maior objetivo desse trabalho é revitalizar a produção de cerâmica ashaninka, pois esse conhecimento vem sendo esquecido pelas mulheres que ainda sabem fazer esse tipo de artesanato. Segundo as informantes, Ririta, Mithawo, Eriwira, Julieta e Joana nos seus depoimentos nos informaram que não praticavam mais, visto que o barro se encontra muito distante da aldeia e não tinham muito incentivo mesmo por parte de suas famílias, e que seria mais fácil comprar uma panela de alumínio, do que produzir um pote ou uma panela de barro que demora dias para estar pronta e tem todo um processo, um conhecimento e uma regra que tem que ser cumprida.

No dia 16 pela parte da manhã, algumas velhas foram queimar o garipé e outras foram tirar o barro. Pela parte da tarde iniciou a produção da cerâmica, todas as velhas estavam bastante interessadas em fazer e ensinar as crianças e as adolescentes que estavam também participando e muito curiosas em aprender como fazer a cerâmica, essa atividade durou um dia e meio, ficando dois dias para a cerâmica secar e endurecer.

Coleta do garipe

No dia 15/07/2009, fomos um grupo de dez pessoas para coleta o garipé em um local que fica aproximadamente uns 40 minutos de distância. A Hilda foi a pessoa que nos levou até a árvore, pois ela é quem conhecia o local e o garipé.

Foto Apiwtxa
Chegando ao local onde foi encontrada uma árvore, foi derrubada para tirar a casca, essa atividade teve duração de aproximadamente uma hora. O motivo de ter derrubado a árvore de garipé, foi porque uma vez a tirada da casca, ela morre, e a casca também tem que ser tirada com pequenos rolinhos de madeira batendo sobre a árvore para poder soltar a casca.

Chegando à aldeia a casca foi posta ao sol por cinco horas. No dia seguinte foram feitas duas fogueiras e iniciado a queima do garipé. Depois da queima, foi machucado em um pilão de madeira por um grupo de mulheres e depois coado até ficar pronto para ser misturado com o barro.

Coleta do barro

No dia 17/07/09, foi um grupo de mulheres pela parte da manhã para fazer a coleta do barro que fica no igarapé perto da casa do Kawosho.

Foto Apiwtxa
Esse barro foi para fazer um teste para ver se era apropriado para a confecção e queima dos vasos, mas na hora de queimar não deu certo os vasos se quebraram. Então, no dia 20 foi feito mais uma coleta de barro, na beira do rio Amônia abaixo da comunidade uns 10 minutos de barco. Na hora da coleta as mulheres falaram que esse barro era melhor que aquele que foi coletado no igarapé, pois sua espessura é mais fina e não tem muito granitos.

Preparo do barro

Na hora de preparar o barro tem toda uma técnica, tem que carinhosamente ir machucando e misturando ele com o garipé, até ele ficar com uma cor escura e mole, facilitando o manuseio e manipulação do barro e iniciar a confecção dos vasos. A preparação do barro leva em torno de 15 minutos.

Confecção da cerâmica

Na confecção da cerâmica todas as mulheres têm que ter paciência, na medida em que vão modelando os vasos, elas vão fazendo o retoque ao mesmo tempo, machucam bem o barro e vão montando o pote.

Foto Apiwtxa
Dependendo do tamanho do pote é o tempo que a ceramista leva para terminar. Aquela que tem experiência é muito habilidosa na delicadeza do acabamento.

Queima da cerâmica

Foi feito a experiência com dois pequenos potes para ver se dava certo ou não. Os vasos que foram colocados no fogo eram mais finos, por isso que eles estavam mais secos, pois os potes dependendo do tamanho e espessura leva vários dias para secar, no caso dos dois potes estavam apenas com dois dias.

Foto Apiwtxa
Segundo a Ririta, primeiramente se coloca em cima do fogo com a boca para baixo, em contato com o fogo, depois de um tempo ao bater com a unha, sai um som fino, então já está bom para colocar mais fogo cobrindo todo o pote, desta forma ele vai ficar de cor avermelhada.

Trabalho com os alunos

No dia 20 continuamos com as atividades, dividindo em duas turmas: as mulheres velhas foram fazer o retoque na cerâmica e os cinco alunos foram para a produção de textos e desenhos junto com o professor Komayari, a Fátima e o professor Enisson.

Foto Apiwtxa
Terminando o retoque nos vasos de ceramica, as mulheres foram pegar mais barro, enquanto isso os alunos trabalhavam na elaboração dos seguintes textos:

a) Desenhar e escrever um texto do primeiro dia da reunião;
b) Desenhar e escrever as mulheres tirando garipé e carregando;
c) Desenhar e escrever as mulheres queimando e pilando o garipé;
d) Desenhar e escrever as mulheres tirando o barro e carregando;
e) Desenhar e escrever as mulheres misturando o barro e garipé;
f) Desenhar e escrever as mulheres rolando o barro
g) Desenhar e escrever as mulheres fazendo os vasos;
h) Desenhar e escrever as mulheres queimando os vasos.

Pela parte da tarde as mulheres deram continuidade na produção dos vasos de cerâmica e os alunos continuaram fazendo os textos sobre:

1) Porque você acha importante o conhecimento da cerâmica?
2) Você achou importante a realização da oficina? Por quê?
3) O que você espera do trabalho da cerâmica no futuro?

Avaliação

No último dia da oficina, nos reunimos com todas as mulheres que participaram para fazermos uma avaliação dos dez dias de trabalho. Cada uma falou que essa oficina foi muito importante e que elas pretendem continuar fazendo a cerâmica, elas irão procurar outros lugares para coletar um barro melhor.

Além de elas continuarem com esse trabalho a escola também estará incentivando e trabalhando com os alunos. Esse trabalho dando certo, a cooperativa irá comprar das mulheres e colocar para vender como mais uma peça do artesanato ashaninka, isso além de ser um incentivo ao fortalecimento cultural também terá um retorno financeiro para elas.

* Francisca Fátima Souza Cruz e Maria Alexandrina da Silva Pinhanta, Relatório da Oficina de Pesquisa e Confecção da Cerâmica, Terra Indígena Kampa do Rio Amônia - Comunidade Apiwtxa, 15 A 23 de Julho de 2009. Realização: Apiwtxa Associação Ashaninka do Rio Amônia. Apoio: PDPI

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