30/10/2009

Valorizar o diálogo com os atores sociais do entorno as TIs para melhorar e avançar na gestão territorial

Representantes das organizações indígenas Atix, Foirn, Apina e Vity-Catë durante visita ao Centro Yorenka Ãtame

Intercâmbio da RCA debate gestão territorial em Terras Indígenas

por ISA, Instituto Socioambiental. Notícias Socioambientais, 30/10/2009

Entre as recomendações da reunião das dez organizações integrantes da Rede de Cooperação Alternativa (RCA-Brasil), realizada em Rio Branco (AC), entre 14 e 24 de outubro está valorizar o diálogo com os atores sociais do entorno as TIs para melhorar e avançar na gestão territorial.

No encontro anual da Rede de Cooperação Alternativa (RCA), representantes das dez organizações que a compõem, conheceram os trabalhos da Comissão Pró Índio (CPI) – Acre, em Rio Branco, em relação à formação de agentes agroflorestais indígenas, e em Marechal Thaumaturgo, a experiência do Centro de Formação Yorenka Ãtame e a aldeia Apiwtxa, do povo Ashaninka.

Participantes em aula com o coordenador do Centro Yorenka Atame, Benke Ashaninka. A frente mudas de mogno do viveito de mudas do centro

O tema do intercâmbio da RCA este ano foi a formação para a gestão territorial e ambiental das Terras Indígenas. No ano passado o tema também foi a gestão territorial. (Saiba mais). Estavam ali 35 membros de organizações indígenas como a Foirn, Atix, Vity-Catë, Apina, Opiac e Hutukara, e assessores de organizações indigenistas como a CPI-AC, o Iepé, o CTI e o ISA, que realizaram visitas e debateram sobre as diferentes formas de trabalho da gestão territorial para cada território indígena, apresentando as principais estratégias de ação de cada organização.

Durante o encontro, houve trocas de informações e de ações sobre as formas de cuidar do território e do lugar onde vivem esses povos. No caso da Terra Indígena Apiwtxa, criada em 1995, a área se resumia a um conjunto de pastagens degradadas que tiveram de ser recuperadas por eles mesmos para que a população voltasse a viver em um ambiente de abundância florestal. Além disso, o sistema agrícola, além da roça foi enriquecido por quintais com sistemas agroflorestais de espécies de uso comum como algodão, urucum, paxiúba, mulateiro e espécies frutíferas.

Incluem-se aí a criação de quelônios, peixes e mel de abelhas nativas. A merenda escolar dos Ashaninka, hoje, vem diretamente das áreas de sistemas agroflorestais (SAFs) e das roças da aldeia. No Centro Yorenka Ãtame observou-se um trabalho de apoio à produção de SAFs, recuperação de áreas, produção de mudas nativas - que atende índios e não indíos da região incluindo jovens da Reserva Extrativista do Alto Juruá e os Kashinawá entre outros, todos moradores do Rio Amônia e do município de Marechal Thaumaturgo.

Dois pontos foram debatidos intensamente durante o intercâmbio: as formas de se estabelecer os processos de formação para a gestão territorial considerando o contexto político, social e cultural de cada povo; e a importância de estabelecer um diálogo com os atores sociais do entorno dos territórios, já que as TIs vivem situações de fronteira peculiares e específicas. É o caso das madeireiras peruanas na fronteira com o Acre, no entorno das áreas com plantio de grãos; do gado no caso do Xingu e território Krahô no Cerrado maranhense; e a situação de fronteiras com países vizinhos como os Yanomami e Wajãpi.

Cristina Velásquez do ISA apresentou a ações de restauração florestal da Campanha Y Ikatu, a criação da rede de sementes e o desenvolvimento da técnica de plantio mecanizado de áreas de restauração florestal nas cabeceiras do Rio Xingu como ação estratégica de preservação e conservação das nascentes e matas ciliares que abastecem o Parque Indígena Xingu e toda a região produtora de grãos no Mato Grosso.

O intercâmbio entre as organizações mostrou ainda que o trabalho de proteção e fiscalização das fronteiras tem sido estratégico para a conservação dos recursos naturais nos territórios.

A proposta geral desse intercâmbio foi discutir boas práticas de gestão territorial indígena, identificando procedimentos, processos e atividades importantes de formação indígena, conduzidas pelas dez organizações da rede, que possam gerar subsídios a serem divulgados e testados em outros contextos etnográficos. A RCA- Brasil contou com o apoio da Rainforest Foundation da Noruega para o intercâmbio, que foi organizado pela CPÍ - Acre.

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