16/11/2010

Brasil: Índio, Internet e Interculturalidade

Photo by Lorena Medeiros

por Elisa Thiago, Global Voices, 14/08/2010

A noção presente no imaginário popular brasileiro de que o índio deixa de ser índio no momento que adota costumes e tecnologias de herança ocidental é contraposta pela prática, cada vez mais difundida nas aldeias indígenas, de utilizar ferramentas de tecnologia de informação exatamente com o intuito de tornar mais eficiente a defesa do estilo de vida e da cultura indígenas.

No Taqui Pra Ti, encontramos um artigo do Prof. José Bessa Freire, coordenador do Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ) e pesquisador no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO). Nele, o autor discute a apropriação indígena dos veículos de mídia cidadã disponíveis na Internet e a utilização de conteúdos multimída com o intuito de promover a socialização, reivindicar direitos e afirmar a identidade indígena no ciberespaço:

"No Brasil, índios de diferentes línguas e etnias foram estimulados a usar a Internet por organizações governamentais e não governamentais. Embora a situação ainda seja bastante precária, inúmeras das 2.698 escolas indígenas existentes nas aldeias, frequentadas por mais de duzentos mil alunos, foram dotadas de computadores. Ali onde isso não foi possível, os computadores dos postos de saúde da Funasa foram disponibilizados dentro dos Pontos de Cultura no Programa Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão."

Com o aumento de acesso a computadores, os primeiros sítios indígenas na Internet surgiram em 2001. Segundo Eliete Pereira, do Centro de Pesquisa Atopos, da Escola de Comunicação e Artes/Universidade de São Paulo, a presença indígena na net ainda é bastante irregular. No mapeamento que fez da participação indígena na Internet, Eliete encontrou três tipos de sítios: os sítios pessoais, os sítios de etnias e os sítios de organizações indígenas.

Os usuários de sítios pessoais utilizam a Internet de forma inovadora para mostrar a produção indígena individual. Nesta categoria, encontramos o sítio, por exemplo, do escritor Daniel Munduruku e da escritora Eliane Potiguara que apresentam os seus livros e dialogam com seus leitores. Também nesta categoria, vamos encontrar os blogs de grandes líderes indígenas como Ailton Krenak.

Já os sítios de diferentes etnias indígenas são criados com o intuito de alcançar uma maior visibilidade indígena no cenário nacional e internacional por meio da divulgação da arte, do artesanato, dos padrões gráficos, das narrativas e da língua de cada etnia. É o caso dos Baniwa, dos Ashaninka e de tantos outros que, após terem participado, em 2005 no Rio de Janeiro, das discussões sobre o acesso indígena à tecnologia da informação e à internet, assim como do lançamento do Portal Rede Povos da Floresta, passaram a fazer uso dessas ferramentas digitais como parte de projetos educacionais de base intercultural com o apoio do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e de ONGs como, por exemplo, o Instituto Socioambiental.

Por fim, os sítios de diferentes organizações indígenas são mantidos na rede por instituições representativas de diferentes etnias cuja abrangência pode ser local, regional ou nacional e que estão associadas à conquista por direitos pela terra, pela educação bilíngue e pela saúde da população indígena. Esses sítios constituem-se em ferramentas de reivindicação e ação política. É o caso, por exemplo, do portal da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - COIAB, do Indios Online ou o da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro - FOIRN.

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