29/05/2008

Índios isolados são fotografados pela primeira vez

As imagens a seguir são as primeiras fotografias dos índios de uma das quatro etnias isoladas que vivem na fronteira do Acre com o Peru. Foram feitas pelo fotógrafo Gleilson Miranda e pertencem aos arquivos da Secretaria de Comunicação do Governo do Acre e ao acervo da Funai. Gleilson participou de um sobrevôo comandado pelo sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental da Funai.

A Apiwtxa partilha da opinião de Meirelles e de tantos de que "estas imagens servem para chamar atenção para os desafios que todos temos de garantir que estes povos possam seguir seu caminho, sem ser importunados, até que um dia, por seu único e exclusivo desejo, resolvam nos contatar." É preciso pressionar os governos do Peru e do Brasil para que desenvolvam uma política de conservação para a área, que sofre com a exploração madeireira que põe em risco a sobrevivência desses povos.



Leia também:
Índios de tribo isolada são fotografados pela primeira vez no Acre, por Ana Luisa Bartholomeu, do UOL, 29/05/2008
Índios Invisíveis foram vistos e fotografados no Acre, por Edvaldo Magalhães, 29/05/2008

26/05/2008

E-mail evita guerra na fronteira do Brasil com Peru

JORNAL NACIONAL, EDIÇÃO DO DIA 26/05/2008

Assista a reportagem AQUI






No Brasil, a tecnologia também está unindo pessoas e provocando mudanças profundas. Nesta semana, o Jornal Nacional vai exibir uma série de reportagens sobre o crescimento do uso do computador e da internet e o poder dessas ferramentas.

Nesta segunda, os repórteres Flávio Fachel e Alberto Fernandez vão contar a história de uma mensagem eletrônica que evitou uma guerra.

Internet. Um bilhão de pessoas conectadas em todo o planeta, 150 milhões de páginas, dois milhões de e-mails por segundo cruzando os continentes na velocidade de um clique.

Que poder teria uma mensagem dessas para um povo com tradição guerreira milenar no meio da floresta?

Alto-Juruá, fronteira do Brasil com o Peru, no Acre, terra dos Ashaninka. As mulheres cuidam da comida, das roupas, das crianças; os homens não descuidam da vigilância. Na mata, nos rios e até nos programas de recados no rádio que vão ao ar todos os dias na região.

Eles não buscam só recados. Procuram pistas que indiquem a presença de invasores vindos do outro lado da fronteira. Madeireiros peruanos de olho no cedro e no mogno existentes na reserva indígena.

Não é seguro usar nem um tradicional rádio, presente em quase todas as aldeias da Amazônia.

“Falta ter segurança, porque às vezes tem coisa secreta que só a Polícia Federal e nós podemos saber”, explica um índio.

A reunião ao luar, em volta da fogueira, é decisiva: "Umanarentzi", dizem os Ashaninka. Significa guerra. Guerra contra os invasores.

De um lado, madeireiros peruanos, equipados com rádios sofisticados, de longo alcance e armas de grosso calibre, até fuzis.

De outro, os índios Ashaninka se defendendo como sempre se defenderam: usando seus arcos e flechas.

Assim que encontraram esse novo inimigo, os índios logo perceberam que iam precisar de armas bem mais poderosas.

Uma antena para conexão, um painel solar para a energia, um computador, que só cinco índios sabem operar. Foi Benki, o filho do cacique, que teve a idéia de levar tecnologia para os guerreiros da floresta.

A decisão da tribo de enfrentar os invasores virou mensagem eletrônica espalhada para ONGs de todo o mundo. E enviada também para o Governo Federal.

"Queremos solicitar a presença das autoridades do nosso país", escreve um índio.

As reivindicações indígenas foram recebidas na Presidência da República. A mensagem foi repassada para a Polícia Federal e para o comando do Exército.

Os arcos e flechas Ashaninkas foram reforçados por um esquadrão de helicópteros das Forças Armadas. O Estado respondeu ao e-mail vindo da floresta, prendeu os invasores e as toras retiradas de forma ilegal foram dinamitadas.

Os helicópteros foram embora e os Ashaninkas continuam a vigilância na fronteira. Só que, agora, os arcos e as flechas ganharam a força da comunicação instantânea, que faz toda a diferença para quem vive isolado na mata.

A munição tecnológica que reforçou os Ashaninkas veio de uma ONG, o Comitê para Democratização da Informática, que já ajudou a levar a internet para quatro aldeias da Amazônia.

“Os Ashaninkas descobriram uma forma de usar a internet como uma ferramenta de libertação. Essa prática deve ser adaptada a realidades distintas de comunidades diferentes, mas ela é a mesma, ela faz com que essas pessoas possam efetivamente se inserir num novo mundo”, disse Rodrigo Baggio, diretor-executivo do CDI.

O computador que agora ajuda os índios a cuidar da fronteira é o mesmo que está chegando nas casas de muitos brasileiros.

De 2000 a 2007, a quantidade de gente com acesso à Internet no Brasil saltou de cinco milhões para 39 milhões de pessoas. Foi o segundo maior crescimento registrado no planeta.

Mesmo assim, na reportagem desta terça, você vai descobrir que tem brasileiro que não conseguiu um lugarzinho nessa grande janela aberta para o mundo.




05/05/2008

Aldeia dos Ashaninkas

Ministro Gilberto Gil visita terras indígenas no município de Marechal Thaumaturgo (AC)

por Patrícia Saldanha*

Foto Comunicação Social/MinC










Rio Amônia correnteza acima, em direção à fronteira com o Peru, numa pequena embarcação de madeira, no município de Marechal Thaumaturgo (AC), o primeiro ministro de Estado brasileiro a pisar em terras indígenas Ashaninka, Gilberto Gil, pôde vivenciar in loco a diversidade da Cultura dos diferentes povos que compõem o país. A visita, realizada entre os dias 1º e 2 de maio, encerrou a viagem de uma semana que a comitiva do Ministério da Cultura (MinC) fez a três estados da Região Norte.

O ministro visitou a área indígena Ashaninka acompanhado dos secretários de Incentivo e Fomento à Cultura (Sefic/MinC), Roberto Nascimento, e de Programas e Projetos Culturais (SPPC/MinC), Célio Turino, além de gerentes e assessores. Os contrastes foram se esboçando já no caminho de ida. Ao atravessar o assentamento do Incra no rio Amônia, alguns quilômentros antes de chegar à área indígena, o ministro pôde observar o impacto que a última cheia do mês de janeiro causou às margens desmatadas do rio, em oposição à floresta intacta que margeia o Amônia, na reserva Ashaninka.

Foto Comunicação Social/MinC










Em conversa com os líderes que o receberam, Gil utilizou metáforas sobre a harmonia e desarmonia existentes na natureza, para destacar a importância de as comunidades autóctones do Brasil buscarem uma postura de mais integração e menos resistência, de maior intercâmbio cultural com a sociedade brasileira. “É preciso que o ideal da vida prevaleça sobre o ideal da luta”, disse. O ministro da Cultura reforçou a importância dos Pontos de Cultura indígenas usufruírem da tecnologia digital e audiovisual na preservação e divulgação de suas culturas. Também ressaltou a necessidade de se fazer uso consciente desses recursos, com avaliação constante pela própria comunidade dos danos e benefícios advindos dessas tecnologias.

Ponto de Cultura

Gilberto Gil visitou o Centro de Formação Yorenka Ãtame - Saberes da Floresta para conhecer os trabalhos que vêm sendo desenvolvidos pelo Ponto de Cultura da Associação Ashaninka do Rio Amônia, vinculada ao Programa Cultura Viva, da SPPC/MinC. Coordenado pela liderança Ashaninka, Benki Piãko, o Centro ensina a jovens índios e não-índios como realizar o manejo sustentável da floresta, sem causar danos ao meio-ambiente. “O Yorenka Ãtame foi criado pela necessidade de comunicação com a comunidade envolvente e para discutirmos os problemas que enfrentamos com a invasão de nossas terras”, comentou Piãko.

Hoje, o centro indígena tem uma dimensão maior, além de trabalhar com jovens e crianças da localidade, articula os demais povos nativos do Alto Juruá, na luta pela preservação da identidade cultural e pelo resgate dos saberes dos antepassados. Lideranças de outros três povos da região foram recepcionar o ministro Gil, na aldeia Apiwtxa. O exemplo da organização e do orgulho de ser indígena, do povo Ashaninka, tem influenciado as demais etnias aborígines do Rio Amônia. Índios que moram dispersos nas margens do rio e chamam a si próprios de caboclos, manifestaram ao ministro, o desejo de serem novamente reconhecidos como índios e se reagruparem em aldeias.

A liderança Francisco Ashaninka, secretário de Assuntos Indígenas do Governo do Acre, formalizou ao ministro Gil e ao secretário Célio Turino, o pedido para transformar o Centro Yorenka Ãtame em Pontão da Cultura dos Povos Indígenas. Ele disse que a solicitação visa reforçar a articulação com os demais povos da região e ampliar os trabalhos de conscientização dos colonos e ribeirinhos sobre a necessidade de preservar o meio-ambiente e diminuir os danos causados à floresta, pelo desmatamento.

Confraternização na Aldeia

As nuvens esconderam o céu da floresta durante toda à noite e uma chuva esparsa impediu os anfitriões de realizarem a programação cultural de cânticos e danças que haviam planejado. A alternativa foi a mostra de slides e vídeos feitos com apoio da Organização Não Governamental (ONG) Vídeo nas Aldeias, sobre as realizações da comunidade. Homenageado com uma cantiga indígena pelo cacique Antônio Ashaninka, o ministro retribuiu com a apresentação de uma música de sua autoria, o Cordel da Banda Larga.

* Patrícia Saldanha, Comunicação Social/MinC, 05/05/2008