20/09/2010

Viagem à Floresta, por Benki Piyãko



Viver na floresta é o verdadeiro paraíso quando sabemos respeitá-la, porque a beleza está em tudo quando sabemos usar.

Quero aqui mandar minha mensagem de uma semana que passei com os mestres na floresta, ensinado os jovens, essa criançada de nosso povo Ashaninka, de como devemos viver com o mundo encantado da Amazônia.

Este encanto está em nossa própria vida, por isso que eu o amo de verdade, e para que isso permaneça para minha futura geração.

Pude ouvir histórias lindas e ouvi gritos e falas de sabedoria vindos dos mestres, como viessem saindo de dentro daquele verdadeiro paraíso. Vendo o anoitecer, a lua brilhar, o sol nascer, os animais na floresta contar, que beleza de fazer coração chorar.

Este mundo é sem maldade. Assim quero viver milhões de décadas com esta história sendo revelada e mostrando porque amamos tanto a floresta.

Peixe, veado, porco, jacaré, passarinho, onça e tatu, entre outros, estava em nosso banquete. Trinta jovem e oito mestres estavam junto nesta imensa história sem fim.

Vivenciei revelações do começo do mundo, parecia que estava tudo começando de novo, olhando fora da floresta e o que está acontecendo com o mundo e a terra, sentindo uma dor que só faltou chorar de tanta tristeza com a destruição.

Mas não vou deixar de viver o que aprendi e nem deixar de ajudar o mundo que está pedindo paz.

Mando em anexo algumas fotos dessa exuberante viagem, no meio da natureza.

Forte abraço a todos,

Benki Piyãko

06/09/2010

Comitiva do MinC é recebida com festa na aldeia Apiwtxa



por Carolina Monteiro, com fotos de Pedro França, Comunicação Social/MinC, Ministério da Cultura, 06/09/2010.

Na quinta-feira, 2 de setembro, segundo dia da passagem da comitiva do Ministério da Cultura pelo Acre, as atividades começaram cedo. Às 6h30, todos já estavam de pé para tomar o café da manhã no refeitório do Centro Yorenka Ãtame e, logo depois, seguir para os barcos que esperavam na beira do Alto Juruá. O destino era a aldeia Apiwtxa, da comunidade Ashaninka, localizada às margens do Rio Amônea, a três horas e meia dali.

Essa foi a segunda visita de um ministro da Cultura à aldeia dos Ashaninka, no Acre. A primeira foi em 2008, quando Gilberto Gil ainda ocupava o cargo. Na ocasião, o então secretário executivo Juca Ferreira não pôde acompanhá-lo.

A subida pelo rio, com a comitiva dividida em diversos barcos, é longa. No caminho, muitos troncos encontram-se caídos nas águas. É o reflexo do desmatamento desordenado e da erosão das margens, devido à época de pouca chuva. Os barcos foram chegando aos poucos, e, no alto de um barranco, muitas crianças esperavam a comitiva. Com olhares curiosos, um pouco envergonhadas, acompanharam a chegada de cada um.

Kaiaçuma e tambores

Já no pátio onde a festa aconteceria, o ministro da Cultura foi recebido com frutas e kaiaçuma, uma bebida feita à base de mandioca fermentada e água. Como a ocasião era especial, a irmã de Benki e Francisco, Dora, havia preparado quase 300 litros dela (o líquido é preparado em caixas d´água com 150 litros, cada).

E foi assim, entre goladas de kaiaçuma, sempre servida em cumbucas por uma jovem índia, e as cores e a alegria contagiante do povo Ashaninka, que os irmãos Pyanko apresentaram um pouco de sua cultura e de seus costumes a Juca Ferreira e à comitiva que o acompanhava.

Após o almoço e uma breve sesta, Benki e Francisco convocaram todos da comunidade para formar uma grande roda no pátio para uma conversa. Eles queriam apresentar todos do Ministério da Cultura ao seu povo. Para que a comunicação fosse geral, falaram em português e em aruak.

Francisco fez uma fala emocionada sobre a trajetória de sua família. “Isso que estou relatando para vocês é pouco, perto do que passamos. Vi meu pai ser enganado por seringueiros e nossas mulheres, maltratadas. Ainda muito jovem, comecei a seguir as orientações do meu avô e da minha mãe, de começar um diálogo com o povo branco e, assim, tentar buscar uma relação de equilíbrio entre nós”, contou.

O filho mais velho de Antônio e Francisca, o casal que deu início a esse processo de aproximação entre índios e não índios, hoje, praticamente não mais vive na aldeia, e parece sentir uma certa amargura em relação a isso. No entanto, ele sabe que essa foi uma missão traçada pelo seu avô, Samuel Pyanko, para salvar sua comunidade. “Me afastar daqui, ter que aprender a lidar com a cultura lá de fora, me custou muito. Hoje, venho para a aldeia a cada dois, três meses, e fico apenas poucos dias. Mas tem que ser assim”, disse.

Já Benki explicou à comunidade a importância do apoio do Ministério da Cultura nas conquistas realizadas por eles. “Queremos que essa parceria seja apenas o começo. Acreditamos na possibilidade de uma convivência harmoniosa para o bem da nossa floresta”.

Costumes Ashaninka

O povo Ashaninka tem descendência andina, vindo de territórios, hoje, localizados no Peru. Os homens usam vestes de cores claras, salpicadas por desenhos de diferentes formatos e cores, feitas com um tecido fabricado por eles mesmos. Já as mulheres usam tecidos mais escuros, comprados nas zonas urbanas. Todos se embelezam com a ajuda de acessórios como pulseiras, brincos e colares muito coloridos, feitos, principalmente, com miçangas, sementes, folhas e penas. Seus rostos estão quase sempre pintados de urucum.

É costume da comunidade que meninos por volta dos 12 anos já comecem a construir a casa onde, futuramente, morarão com suas esposas. O namoro começa cedo, por volta dos 13, 14 anos, e em poucos meses já vira casamento. As moças ashaninkas tornam-se mães muito jovens e têm vários filhos. No entanto, aos homens é permitido ter mais de uma mulher, desde que eles tenham condições de sustentá-las.

Na aldeia Apiwtxa, todos falam o aruak. As crianças começam a aprender o português só por volta dos 10 anos. Os mais velhos são respeitados e são símbolos de sabedoria. Para eles, a palavra “envelhecer” não faz o menor sentido. O correto, segundo Benki, é “ficar carregado de sabedoria”. A alegria e o sorriso parecem uma marca registrada da comunidade. Todos são muito falantes, não importa a idade. Eles não seguem o calendário romano e não tiram o sábado e o domingo para descansar. Todos os dias são de trabalho e podem ser, também, de diversão.

A equipe do MinC, junto ao ministro Juca Ferreira, passou a noite na aldeia e dormiu em redes, em uma casa de arquitetura típica dos Ashaninkas, sem paredes e alta, como palafitas (é uma prevenção contra os períodos de cheia do rio). Logo após a roda de conversa, todos jantaram, e a batucada de alguns tambores começou. Índios e não-índios dançaram, riram, se divertiram e aprenderam um pouco mais uns com os outros.

Às 6h30 da manhã da sexta-feira, 3 de setembro, a claridade já despontava e acordava quem não tinha agüentado passar a noite em claro. Foi o momento de passear mais um pouco pela aldeia, tomar um café-da-manhã típico e se despedir – mas uma despedida mais para ‘até breve’, já que o Ministério da Cultura acompanhará a construção do Centro de Cultura da Floresta pelos próximos anos.

Mais fotos, aqui.

01/09/2010

Ministro Juca Ferreira assina acordo para criação de Centro de Cultura da Floresta e anuncia resultado


Página 20 Online - 01/09/2010

O ministro da Cultura, Juca Ferreira, assina, nesta quarta-feira, 1º de setembro, às 9h, no Palácio Rio Branco, acordo para a criação do Centro de Cultura da Floresta, no Acre, - parceria entre o Ministério da Cultura e a Associação de Cultura e Meio Ambiente - que beneficiará 220 mil pessoas. O ministro também anuncia o resultado do edital Microprojetos Mais Cultura para Amazônia Legal.

Centro de Cultura da Floresta - O Estado do Acre será beneficiado com o Centro de Cultura da Floresta, a partir de assinatura de acordo entre o Ministério da Cultura (MinC) e a Associação de Cultura e Meio Ambiente (ACMA). A parceria beneficiará 220 mil pessoas, como os indígenas da etnia Ashaninka, responsáveis pela manutenção e desenvolvimento do Centro Yorenka Ãtame, que significa “Saberes da Floresta”, na língua aruak.

A meta é construir um espaço multiuso com auditório, estúdio de gravação musical e sonorização, camarim, depósito para materiais e um Teatro Arena. “Por uma questão de preservação da tradição todas essas instalações serão desenvolvidas dentro do formato da arquitetura dos Ashaninkas”, observa João Augusto Fortes, coordenador executivo do projeto. A infraestrutura, orçada em R$ 4,7 milhões, será implementada ao longo de três anos e vai permitir a fomentação de projetos artísticos, cursos de formação em gestão de projetos culturais e na área de políticas públicas em diferentes módulos, além do fortalecimento da comunicação local.

A parceria do MinC com a ACMA irá beneficiar diretamente mais de 6 mil habitantes de 16 povoados da etnia Ashaninka na região - parte no Brasil, parte no Peru - e outras 9 mil que vivem na reserva extrativista da bacia do Alto Juruá. “O Centro Yorenka Atãme já é uma referência. Não apenas no Acre, mas em outros estados como Rondônia, Roraima, Amazônia e, pela proximidade com a fronteira, até com o Peru. Então essa infraestrutura trará benefício para aproximadamente 220 mil pessoas entre comunidade indígena e não índios”, acredita João Fortes.

Idealizado em 2007 por sete irmãos da família Pianko Ashaninka, o Centro Yorenka Ãtame funciona como um espaço de formação, educação, intercâmbio e difusão de práticas de manejo sustentável dos recursos naturais da região. Aberto para jovens e adultos, o Centro, à margem direita do rio Juruá, em frente do município de Marechal Thaumaturgo (AC), desenvolve trabalhos nas áreas de proteção da biodiversidade, do meio ambiente, manejo de recursos, práticas agros florestais e outras.

Microprojetos para Amazônia - Através do edital Microprojetos para Amazônia Legal foram selecionados, ao todo, 753 projetos de artistas, grupos artísticos independentes e produtores culturais da região amazônica. Os investimentos do MinC somam R$ 11,43 milhões.

O primeiro edital da pasta destinado à Amazônia Legal recebeu 2.702 propostas. Foram beneficiados projetos em todos os nove estados da região amazônica: 26 do Acre, 14 do Amapá, 70 do Amazonas, 159 do Maranhão, 141 do Mato Grosso, 132 do Pará, 53 de Rondônia, 24 de Roraima e 134 do Tocantins.

Os 26 projetos do Acre vão receber pouco mais de R$ 338 mil e beneficiar 16 municípios. As iniciativas selecionadas receberão até 35 salários mínimos, valor máximo estabelecido no edital. A ação conta com o apoio da Funarte, Banco da Amazônia (BASA) e dos governos estaduais da região amazônica.

Ação do Programa Mais Cultura, o edital Microprojetos para Amazônia Legal visa fortalecer e apoiar a diversidade cultural da região amazônica por meio do financiamento não-reembolsável de projetos. As propostas contempladas têm como beneficiários ou proponentes jovens entre 17 e 29 anos que residem na região.

A relação dos selecionados poderá ser consultada nas páginas eletrônicas do Ministério da Cultura (www.cultura.gov.br), do Programa Mais Cultura (http://mais.cultura.gov.br) e da Funarte (www.funarte.gov.br).