24/11/2016

APIWTXA REALIZA O 4° MÓDULO DO CURSO DE FORMAÇÃO EM GESTÃO

Entre os dias 14 e 16 de novembro, cerca de trinta membros da comunidade Ashaninka da Apiwtxa participaram do 4° módulo do Curso de Formação Continuada em Gestão.

Com apoio do BNDES/Fundo Amazônia no âmbito do Projeto Alto Juruá, e ministrado por Márcio Calvão da empresa de consultoria Instituto Rever, o curso foi realizado na aldeia, e contou com a participação de dirigentes da Associação Ashaninka do Rio Amônia – Apiwtxa e da Cooperativa Agroextrativista Asheninka do Rio Amônia – Ayõpare.  

Tendo como objetivo a formação da comunidade para a elaboração de projetos, o Curso, além do tratamento de conhecimentos técnicos e teóricos sobre o tema, proporcionou a elaboração de um projeto para aplicação prática dos conteúdos abordados.


Os Ashaninka presentes aproveitaram, então, a oportunidade para discutir uma problemática concreta da Comunidade e elaborar um projeto real que será, de fato, implementado.

Debatendo os impactos da introdução dos recursos decorrentes de benefícios sociais e salários na comunidade, concluíram que os principais desafios a serem enfrentados em relação ao assunto, residem em evitar que os beneficiários tenham que se deslocar até o município de Marechal Thaumaturgo para acessar os respectivos recursos, e implementar mecanismos para que esses valores possam circular na aldeia, contribuindo para fortalecer toda a Apiwtxa.     

O deslocamento dos Ashaninka até a cidade para recebimento dos salários ou recursos da Seguridade Social, vem implicando na diminuição da participação e envolvimento das pessoas nas questões comunitárias, bem como da produção do artesanato, além de permitir sua exposição a doenças, vida noturna, bebidas alcoólicas e outras drogas. Vem sendo constatado, ainda, um aumento do consumo de alimentos industrializados em razão da necessidade de permanência na cidade para a conclusão das providências relativas. Outras questões apontadas pelos presentes foram a constatação de um gasto excessivo de combustível em razão da necessidade de constantes deslocamentos até o município, e a ocorrência de casos de retenção e uso indevido de cartões por comerciantes locais.

Frente ao cenário mapeado, foi levantado um conjunto de oportunidades como consequência de modificações que permitam a chegada desses recursos na aldeia, sem necessidade de deslocamento dos Ashaninka da Apiwtxa até a cidade, e a melhor circulação dos recursos dentro da aldeia. 

Nesse sentido, foi desenvolvido durante o Curso, um projeto de fortalecimento da economia e organização sociocultural da Apiwtxa, com objetivo de criar mecanismos que possibilitem o pagamento dos benefícios sociais e salários na comunidade, e de desenvolver o mercado e a organização sociocultural do Povo Ashaninka da Apiwtxa.

O resultado do Curso foi de grande relevância para a Comunidade Apiwtxa, que seguirá, a partir desse momento, trabalhando no sentido de viabilizar o projeto elaborado.

22/11/2016

APIWTXA DISCUTE SITUAÇÃO DO BOLSA FAMÍLIA EM REUNIÃO NO MPF

No dia 9 de novembro estiveram reunidos no Ministério Público Federal – MPF, em Cruzeiro do Sul, o Presidente da Apiwtxa e equipe, bem como representantes da Secretaria Municipal de Assistência Social de Marechal Thaumaturgo, da Coordenação Estadual do Programa Bolsa Família, da Caixa Econômica Federal e da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, para discutir a situação do Programa Bolsa Família na Terra Indígena Kampa do Rio Amônia.

A reunião foi realizada em resposta a um ofício da Apiwtxa ao MPF, enviado em fevereiro deste ano, no qual a Associação relata os impactos negativos que o recebimento do Programa Bolsa Família vem causando à comunidade. Um dos principais problemas está relacionado com a necessidade de deslocamento da comunidade ao município para sacar o benefício, o que tem gerado uma movimentação mensal de membros da Apiwtxa à cidade. Esse deslocamento constante traz uma série de consequências negativas para a comunidade, dentre as quais a permanência de famílias na cidade por vários dias na espera do benefício, o consumo de alimentos industrializados e de bebidas alcoólicas. Além disso, a permanência na cidade prejudica o comparecimento nas reuniões e atividades comunitárias, além de comprometer a dedicação das famílias às suas atividades produtivas, como roçados e artesanato.

Outro fator de preocupação da Apiwtxa é em relação às condicionalidades de saúde e educação do Programa, que exigem a matrícula escolar, bem como o cumprimento de ações de saúde, como vacinação e pré-natal para a continuidade do recebimento. Ocorre que as comunidades indígenas possuem o direito à saúde e educação diferenciados assegurados em lei, e as famílias podem optar, por exemplo, em não matricular seus filhos na escola e/ou seguir práticas tradicionais de acompanhamento de saúde. No entanto, a estrutura do Programa Bolsa Família não atende à especificidade indígena.

Na audiência, Moisés Piyãko – Presidente da Apiwtxa, ressaltou que o Programa pode trazer benefícios positivos à comunidade, além de ser um direito. Não obstante, o que estão buscando é aperfeiçoar a forma de recebimento deste recurso, para evitar que tenha consequências negativas para o coletivo: “Estou falando aqui como líder comunitário. Isso mexe com a nossa estrutura. A maioria das pessoas de lá estão despreparadas para lidar com o que acontece na cidade, e a cidade sempre tem gente se aproveitando desse desconhecimento”.

O Procurador Federal falou que a problemática das condicionalidades está sendo tratada em nível federal e ressaltou que a reunião tinha a finalidade de buscar trabalhar com o aspecto do recebimento do recurso e levantar alternativas para que se reduzam os impactos decorrentes deste. O que a Apiwtxa espera viabilizar é que o benefício seja entregue na própria comunidade para evitar os deslocamentos constantes e fortalecer a economia local, por meio da Cooperativa Ayõpare.

Todos os participantes da reunião expressaram seus pontos de vista e dificuldades quanto ao tema. Foram levantadas possibilidades, a serem estudadas, para que a entrega do benefício aconteça na aldeia. O representante da Funai, Jairo Lima, destacou: “O Acre é um celeiro de experiências exitosas. Vamos ver se conseguimos articular uma experiência efetiva de fazer o recurso chegar até lá. Os Ashaninka do Amônia possuem uma rede de parceiros que podem apoiar isso, e se pensarmos de maneira coletiva podemos resolver”. 

Na semana seguinte o tema foi foco de debates na aldeia Apiwtxa, quando os resultados da reunião foram apresentados à comunidade, e foram discutidas possibilidades de superação dos entraves relativos ao recebimento do recurso.

Fotos: Pedro Kuperman

21/11/2016

APIWTXA RECEBE REPRESENTANTES DO POVO GUARANI-MBYÁ PARA INTERCÂMBIO

A Apiwtxa recebeu, entre os dias 10 e 17 de outubro, uma comitiva de representantes do Povo Guarani Mbya da região Sul do país, para um importante encontro intercultural.
Realizado entre 5 representantes Guarani e os Ashaninka da Apiwtxa, como iniciativa do Centro de Trabalho Indigenista – CTI, o intercâmbio contou com recursos de projeto aprovado pelo Newton Fund/British Council, em parceria com o Centro de Antropologia da Sustentabilidade/CAOS, da University College London. O projeto tem como objetivo principal apoiar a construção de planos de gestão e promover a recuperação de áreas degradadas em terras Guarani, bem como avançar nos debates a respeito da gestão de conflitos que envolvem sobreposição de terras indígenas e unidades de conservação.

O intercâmbio foi idealizado para apresentar o exemplo dos planos de gestão e sistemas agroflorestais já implementados pelos Ashaninka do Amônia, e estabelecer um compartilhamento de conhecimentos sobre organização comunitária.
O grupo, constituído por Jaime Valdir da Silva, Marcio Mariano, Ronaldo Costa, Sergio Moreira, e Adriano Morinico, das Terras indígenas Cantagalo (RS), Salto do Jacuí (RS), Piraí (SC), Tarumã (SC), e Morro Alto (SC), passou três dias no Centro de Saberes da Floresta Yorenka Ãtame, constatando os trabalhos e resultados do reflorestamento ali iniciado há mais dez anos. Os indígenas Guarani puderam, ainda, acompanhar parte das atividades de um curso de Agroecologia que estava sendo oferecido pela Apiwtxa por meio de o Projeto Alto Juruá com recursos do Fundo Amazônia/BNDES, tendo realizado práticas como coleta e plantio de mudas e sementes de espécies da Amazônia, construção de canteiros, sementeiras e viveiros, e atividades de poda.

Uma pequena mostra de peças de artesanato Guarani atraiu a atenção do público presente, e encantou um grupo de indígenas do Povo Kaxinawá que acompanhava o curso.
 
Em seguida, rumaram para a Aldeia Apiwtxa na Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, onde visitaram os roçados, participaram de conversas com as lideranças da aldeia, e rituais tradicionais do Povo Ashaninka.
O encontro dos Ashaninka com os Guarani foi marcado por falas acolhedoras e emocionadas de ambas as partes. Os Guarani, que hoje sofrem pela falta de acesso à terra e aos recursos naturais, ficaram tocados com a vida na aldeia e com exemplo dos Ashaninka, e elogiaram especialmente sua organização comunitária. Para os Ashaninka, foi uma grande alegria receber os Guarani e ter a possibilidade de compartilhar seus conhecimentos, pois esta é mais uma ação que fortalece a luta indígena no país.

10/11/2016

APIWTXA INCENTIVA PLANO DE VIDA AUTÔNOMA E SUSTENTÁVEL PARA OS ASHANINKA DE SAWAWO

Nos últimos dias do mês de outubro, uma equipe da Apiwtxa, liderada por Francisco, Moisés e Wewito Piyãko, subiu o Rio Amônia em direção à comunidade Ashaninka Sawawo, no Peru. O objetivo da viagem foi o cumprimento de um importante objetivo da Apiwtxa: contribuir para o fortalecimento dos parentes que vivem do lado peruano da fronteira.

O dia seguinte começou com a bonita abertura do evento, onde as lideranças das duas comunidades expressaram alegria e satisfação pela realização do encontro, do qual se espera a geração de efeitos positivos para a região do Amônia. Dentre esses efeitos estão a consolidação da autonomia dos povos indígenas, a otimização da gestão de seus territórios, e a conservação da floresta.


A comunidade do Sawawo vem investindo na reorganização de suas atividades produtivas, buscando alternativas para geração de renda de modo sustentável, e com plena valorização da cultura Ashaninka. Os Ashaninka da Apiwtxa, então, rumaram para lá a fim de compartilhar com os parentes a experiência do etnomapeamento realizado na Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, onde vivem.

O etnomapeamento é a construção de uma carta geográfica que aponta os locais importantes da Terra Indígena, o seu uso cultural, a distribuição dos recursos naturais dentro do território, a identificação de impactos ambientais e outras informações relevantes, enfatizando a visão, os interesses, o olhar e a compreensão do Povo que ali vive.

Na Terra Indígena Kampa do Rio Amônia esse trabalho teve início em 2004 e constituiu um longo processo por meio do qual as comunidades elaboraram nove mapas de diagnóstico de seu território.
Nesta oficina no Sawawo, os moradores, divididos em dois grupos, um de homens, outro de mulheres, realizaram, discutiram, e apresentaram mapas de sua aldeia, onde foram indicados todos os pontos fundamentais para a vida da comunidade.


O objetivo do etnomapeamento é construir uma ferramenta útil para a gestão territorial e ambiental do território de Sawawo, possibilitando diagnosticar os cenários sobre seu uso e conservação, ajudar a estabelecer o plano de vida da comunidade, e constituir um instrumento político importante na defesa de direitos e interesses da comunidade indígena, fortalecendo a organização social, a luta pela implementação de políticas públicas, o auxílio na solução de conflitos, etc.

Tanto o etnomapeamento, quanto o Plano de Gestão do Território, têm como princípio fundamental o protagonismo indígena, pois são feitos pelos e para os indígenas que vivem no território, segundo suas aspirações e visões de futuro, com a colaboração e o apoio de parceiros do Estado e da sociedade civil.

Ao final do encontro, ficou acordada a realização de uma nova etapa desse processo, que, financiada pela Apiwtxa, ocorrerá em janeiro de 2017 em Sawawo no Peru, com ampla participação da comunidade, visando a construção de outros mapas necessários a um diagnóstico aprofundado dos aspectos fundamentais à promoção dos aspectos sociais, econômicos e culturais dos Ashaninka daquele território.

A comunidade Ashaninka do Sawawo é composta por cerca de 45 famílias que vivem em um território de cerca de 35 mil hectares, situados no município do Breu, Departamento de Ucayali – Província de Atalaya, no Peru. Um importante diferencial dessa comunidade, assim como da Apiwtxa, está no forte nível de preservação da língua e dos aspectos rituais do Povo Ashaninka.

09/11/2016

MULHERES DA APIWTXA COZINHAM DOCES COM FRUTAS DA REGIÃO

No dia 30 de outubro, a Apiwtxa recebeu a visita da instrutora Elizelda Pinheiro do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR, que conduziu uma prática de culinária à base de doces para um grupo de mulheres da aldeia. A aula foi voltada à aprendizagem de receitas à base de frutas e outros alimentos da região, e demonstrou como aproveitar todo potencial de cada alimento.
A atividade, de iniciativa da Associação Ashaninka do Rio Amônia - Apiwtxa, foi realizada em parceria com diversas instituições. Além do SENAR, foram parceiros, a Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar – SEAPROF, e o SEBRAE, por meio do Projeto de Desenvolvimento Territorial e Econômico – DET.
O grupo de participantes, composto por mulheres da aldeia ficou reunido durante uma tarde de compartilhamentos e aprendizados, e confeccionou receitas como brigadeiro, compota e geleia de banana, doce de abóbora, geleias de manga, caju, e beterraba, e doce de mamão. Alguns moradores da Apiwtxa que provaram as delícias feitas durante a aula, afirmaram que esperam que as receitas possam ser repetidas em outros momentos para degustação das famílias.


07/11/2016

REUNIÃO ENTRE APIWTXA E ACONADIYSH DISCUTE COOPERAÇÃO TÉCNICA ENTRE AS ORGANIZAÇÕES

No último dia 29 estiveram reunidas lideranças da Associação Ashaninka do Rio Amônia – Apiwtxa e da Associação de Comunidades Nativas para el Desarollo Integral de Yurua Yono Sharakoiai – Aconadiysh, num encontro que retomou as tratativas de aliança cooperativa entre as duas instituições.

Apresentando o contexto em que vivem, os representes da Aconadiysh falaram sobre os problemas que os povos indígenas no Peru têm enfrentado em razão da falta de apoio de parceiros governamentais e não governamentais para a promoção e proteção dos direitos dos indígenas, e em decorrência do modelo de desenvolvimento que investe em empreendimentos que têm impactado as comunidades nativas. Para o grupo peruano, composto por cinco lideranças, o momento representou a oportunidade de estreitar a aliança entre o Brasil e o Peru para fortalecer as lutas dos povos indígenas nos dois países.
Francisco Piyãko da Apiwtxa, também considerou a reunião importante, por entender que a aproximação dessas relações reforça a autonomia das organizações indígenas, que somando seus esforços, podem avançar em seus projetos sem depender somente da ação governamental.

Realizada na aldeia Apiwtxa, a reunião contou com uma apresentação sobre as ações e projetos que vêm sendo desenvolvidos pela Associação Ashaninka do Rio Amônia, que procurou demonstrar os resultados que vem alcançando com base na ação autônoma e protagonizada pela própria comunidade.

O diálogo contou com a discussão de assuntos como a importância de processos de planejamento por parte das comunidades, a necessidade de discussão e compreensão do papel da comunidade e da união e participação de todos no seu fortalecimento, e a possibilidade de aliar os conhecimentos tradicionais a outros conhecimentos em benefício comunitário.
Os Ashaninka da Apiwtxa relembram que a comunidade passou três anos planejando seu futuro, discutindo o seu papel, o lugar que pretendia alcançar, e depois começou a agir para colocar tudo isso em prática.

Nesse sentido, Moisés Piyãko explicou que a palavra Apiwtxa significa “juntos”, e isso é exatamente o que ali se pratica. “É preciso olhar quem somos, quem queremos ser, e o que temos que fazer para sermos respeitados. Trazer para nossa ação a força da fala e da crença”, afirmou.  

O principal encaminhamento dessa importante reunião, foi a pactuação de um acordo de cooperação técnica entre as duas organizações, Apiwtxa e Aconadiysh. Para aprofundar os termos dessa cooperação, será realizado nos dias 10 e 11 de dezembro, um encontro financiado pela Apiwtxa, com a garantia da participação das 24 comunidades indígenas associadas à Aconadiysh, onde serão tomadas as decisões gerais a respeito dessa parceria.