26/06/2009

Proteção Transfronteiriça da Serra do Divisor e Alto Juruá Brasil-Peru


Do dia 30 de junho a 03 de julho o Grupo de Trabalho Transfronteiriço (GTT) se reúne em Marechal Thaumaturgo para o 11º Encontro do Grupo de Trabalho para Proteção Transfronteiriça da Serra do Divisor e Alto Juruá Brasil-Peru. O evento acontece na escola Ashaninka Centro de Saberes da Floresta Yorenka Ãtame.

O objetivo do encontro é levar aos participantes as atualizações das informações sobre os grandes projetos que põem em risco as comunidades da fronteira entre o Acre e Ucayali, localizado no Peru; avaliar compromissos firmados entre as organizações participantes das reuniões anteriores; e continuar a articulação entre o movimento social referente à região do Vale do Juruá.

Participam do encontro organizações indígenas, ambientalistas, indigenistas e sindicais, como a Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPIAC), Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marechal Thaumaturgo, Associação de Seringueiros e Agricultores do Grajaú (ASAG), entre outras. Representantes dos povos Poyanawa, Huni Kui (Kaxinawá), Ashaninka, Nukini, Arara, Jaminawa, Manchineri e Kuntanawa também estarão presentes.

Durante a reunião, lideranças de seringueiros, agro-extrativistas e povos indígenas da região darão depoimentos sobre o que vem acontecendo nas áreas de fronteira. Também haverá apresentações informativas e discussões sobre a questão fronteiriça. Neste 11ª encontro o GTT incluiu na sua pauta, pela primeira vez, as mudanças climáticas, que serão abordadas através de trabalho em grupos, palestra e exibição de vídeo.

O 11º encontro do Grupo de Trabalho Transfronteiriço é uma realização da Comissão Pró-Índio do Acre em parceria com a SOS Amazônia e Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Marechal Thaumaturgo. O evento está inserido no projeto Fortalecimento dos Povos Indígenas e Conservação da Biodiversidade na Fronteira Brasil-Peru, apoiado pela Rainforest Foundation Noruega (RFN).

25/06/2009

Fiscais da Natureza

por Karla Monteiro*

Unidos pela mesma causa, índios e seringueiros criam uma das mais bem-sucedidas experiências em prol da preservação da Amazônia, a universidade da floresta Yorenka Ãtame

Capa da Revista O Globo com Moisés Piyãko Foto: Marizilda Cruppe

Nessa história, empresários cariocas, caboclos e índios encontram-se sob a mesma árvore. A causa é comum: a velha luta da preservação da Amazônia. João Augusto Fortes, herdeiro da João Fortes Engenharia, sujeito com longos anos de militância na causa, capitaneia o braço empresarial da eclética turma.

Em 2003, em parceria com o CDI (Comitê para Democratização da Informática) e com Ailton Krenak, companheiro de Chico Mendes na idealização da Aliança dos Povos da Floresta e uma liderança indígena de peso, ele criou a ONG Rede Povos da Floresta, com o apoio de companheiros como Luís Paulo Montenegro, do Ibope, João Alfredo Viegas, da Concremat, e Paulo Jobim. A idéia era continuar o trabalho adormecido com a morte, em 1988, do lendário seringueiro. João foi amigo de Chico e sempre botou fé no caminho traçado por ele e Krenak: estabelecer a paz entre índios e seringueiros e fortalecê-los culturalmente, para que juntos os habitantes da Amazônia pudessem defender sua causa.

João Fortes, um líder seringueiro e o ashaninka Benki Piyãko sob a samaúma centenária Foto: Marizilda Cruppe

O início da ONG de João foi modesto. O projeto consistia na instalação de pontos de internet em aldeias e comunidades remotas para facilitar a comunicação. De lá para cá, a Rede Povos da Floresta diversificou a atuação. O braço indígena mais forte dessa rede hoje são os Ashaninka, etnia oriunda do Peru, que se espalhou pela selva depois da chegada dos espanhóis. No lado peruano da Amazônia, são cerca de 70 mil índios Ashaninka. Aqui, em torno de 1.500. Sábios conhecedores da floresta, eles são donos de uma biografia impressionante, que mistura tradição, militância, organização e um projeto traçado dentro da própria aldeia que casou perfeitamente com os ideais herdados por João de Chico Mendes e Krenak, de juntar todo mundo debaixo da mesma árvore em prol da Amazônia.

Hoje, sob uma centenária samaúma, a rainha do centro educacional Yorenka Ãtame, o coração da conexão Rio-Amazônia, a prosa rende esperança. No pedaço de terra localizado a oeste do Acre, no Vale do Juruá, próximo à fronteira com o Peru, nasceu dessa teia intrigante de relações uma espécie de universidade da floresta.

- A base do pensamento é reforçar cultura. Nosso trabalho segue alguns fundamentos: ele é tradicional, ele é de valorização de cultura, ele é de valorização dos saberes da floresta. A princípio, quem ensina aqui como fazer para preservar é a própria floresta - diz João.

O dia na Yorenka é longo e o debate é intenso e apaixonado Foto: Marizilda Cruppe

A Yorenka Ãtame ocupa 86 hectares de terra, às margens do rio Juruá. O povoado mais próximo é Marechal Thaumaturgo, um vilarejo de dez mil habitantes, onde só se chega de barco ao avião fretado. O lugar é um centro de troca de conhecimentos entre índios das mais diversas etnias e brancos, com duas salas de aula, uma biblioteca, uma lojinha de artesanato, uma sala de internet, um refeitório, duas casas indígenas e uma pousada para abrigar 40 pessoas, tudo construído de acordo coma arquitetura Ashaninka. Um espaço assim era o sonho de Samuel Piyãko, líder espiritual e político dos Ashaninka do Rio Amônea, cuja aldeia fica a três horas de barco da Yorenka.

Para entender a origem de tudo, é preciso voltar aos anos 70. Naquela época, quando seringueiros ainda matavam índios - e vice-versa -, insuflados pelos chamados patrões, ele idealizou um território neutro, onde os moradores da floresta pudessem trocar experiências e se unir na preservação da Amazônia. Focado na conquista da união, o velho sábio casou seu filho, Antônio Piyãko, hoje cacique Ashaninka, com a seringueira Francisca Oliveira da Silva. Aos 19 anos, a cabocla destemida virou uma ativista quando o ativismo nem estava em moda, carregando na barra da saia sete filhos: Francisco, Moisés, Isaac, Benki, Bebito, Dora e Alexandrina.

- Ela tomou a frente. Introduziu valores comerciais aos produtos da aldeia, ensinou a língua dos brancos, apoiava meu pai na preservação da nossa cultura, apesar de nunca ter vestido roupa ou tentado virar índia - conta Francisco.

Antônio Piyãko posa com a mulher, a seringueira Francisca Oliveira Foto: Marizilda Cruppe

- A mãe foi muito ameaçada. Quando eu tinha 5 anos, um sujeito pulou na frente da nossa canoa com um facão para matá-la. Ela saltou no seco com uma vara na mão. Ele foi para cima dela. Não sei como cinco pessoas saíram de dentro da mata e nos ajudaram. Ela contrariou os interesses, conseguindo estabelecer diálogo entre caboclos e índios - lembra Benki.

Quando os filhos começaram a crescer, Francisca, ou dona Piti, ficou na retaguarda e botou seu exército na linha de frente. Francisco, o mais velho, hoje com 41 anos, tinha 12 anos. Nessa época, as primeiras discussões sobre a demarcação das terras indígenas estavam se espalhando pela selva. Era o menino quem ia às reuniões e depois traduzia para a tribo as decisões. Até então os ashaninka migravam de um rio para o outro, em busca de paz. Assim que as terras foram finalmente demarcadas, em 1992, os irmãos Piyãko resolveram se sentar e traçar um plano.

- Decidimos trabalhar para que daqui a cem anos os ashaninka continuem tendo suas terras, sua cultura, a mesma força, a mesma organização. Para isso, é preciso lutar pelo entorno. Se só os ashaninka tiverem mesa farta, continuaremos sempre em perigo - raciocina Francisco.

- O primeiro trabalho foi estabelecer a aldeia. Expulsamos os intrusos da nossa terra, cortamos a cachaça e os produtos industrializados. Iniciamos o reflorestamento e a recuperação de tracajás (espécie de tartaruga) e peixes. Resgatamos o artesanato e pesquisamos todos os recursos naturais. Depois desse planejamento todo, cada um dos meus irmãos assumiu um papel.

Nessa divisão de tarefas, Benki e Moisés viraram embaixadores dos ashaninka, enquanto Francisco e Isaac assumiram funções na política local. Francisco é hoje secretário para Assuntos Indígenas do governo do Acre e Isaac, secretário de Meio Ambiente da prefeitura de Marechal Thaumaturgo. Benki e Moisés passaram a viajar para encontros indígenas, dentro e fora do Brasil.

Centro Yorenka Ãtame, local escolhido para a Roda de Conversa Foto: Arquivo

Em 1993, eles conheceram João Fortes, em São Paulo. Desde a morte de Chico Mendes, João já havia feito várias investidas na Amazônia. A mais famosa delas foi o lançamento do couro vegetal, em parceria com a empresária Bia Saldanha, um produto produzido por índios e seringueiros, que chegou às vitrines da grife francesa Hermès. A saga do couro vegetal foi contada por Guilherme Fiúza, autor de "Meu nome não é Johnny", no livro "Amazônia 20° andar".

- Nos encontramos em São Paulo e, depois, no Colorado, na fundação Earth Restoration Corps. Ali nossos laços se estreitaram - conta João. - Quando surgiu a Rede Povos, a Ashaninka foi uma das agraciadas com acesso à internet.

Em 2005, os irmãos Benki e Moisés viajaram para a Europa para participar do Ano do Brasil na França com a turma de João. Na volta, todos voaram para o Acre, entre eles Luís Paulo Montenegro e a atriz Letícia Spiller.

- Vieram umas vinte pessoas para cá. Fizemos uma reunião na beira do rio. Expus a ideia do meu avô e o Luís Paulo se dispôs a conseguir os recursos para a construção da Yorenka Ãtame. A inauguração foi em 7 de julho de 2007 - conta Benki. - A proposta era criar uma universidade da floresta, onde poderíamos colocar nosso conhecimento, nossa ciência tradicional a serviço da Amazônia.

A universidade desenhada por Benki está funcionando a pleno vapor. Na semana passada, quando estivemos por lá, índios de nove etnias estavam reunidos na Yorenka Ãtame, vindos dos mais distantes pontos da selva. As rodas de conversa, como eles chamam as reuniões, duraram três dias, com intervalo só para os deliciosos almoços: feijão colhido no quintal, farinha, peixe e suco de carambola, de maracujá, de tangerina. O assunto da vez era a implantação de 30 pontos de cultura em terras indígenas. Os tais pontos de cultura contarão com instrumentos para o registro e divulgação das tradições de cada tribo, como câmeras de vídeo, câmeras fotográficas, computadores e acesso à internet.

Índios e brancos debateram exaustivamente como levar tecnologia para as aldeias sem botar em risco a cultura tradicional. Os ashaninka exibiram sua experiência no uso da parafernália inventada pelo homem branco. Eles fizeram um documentário premiado na França, "A gente luta, mas come fruta". E, em 2004, a tribo enfrentou uma invasão de madeireiros peruanos, vencida com tecnologia. Em vez de partir para a briga, Benki espalhou um email, que chegou ao Palácio do Planalto e ao "Fantástico". Foi Estevão Ciavatta, marido de Regina Casé, quem tratou de encaminhar a mensagem para a TV Globo. Em poucos dias, o Exército estava lá. E a televisão também.

- A internet é só um ponto de ligação, de comunicação entre eles e deles com o mundo. Nós somos um grupo de apoio urbano que dá o aval de que é legal, é bacana ser índio e preservar as tradições. Quando eles se veem reconhecidos, batalham pelo próprio valor, pelas raízes - comenta João.

Durante a roda de conversa, todo mundo falou, palpitou, sugeriu usos para os equipamentos que receberão. Os índios se vestiram e se pintaram para o encontro. Francisco Piyãko reforçou o uso guerreiro para os computadores e câmeras.

- Na época do Chico Mendes, a gente fazia os chamados empates para impedir as motosserras no corpo-a-corpo. Com os equipamentos, podemos fazer o empate sem sair de nossas aldeias. Podemos mandar um email, filmar, fazer documentários. A tecnologia fortalece nosso poder de organização - comenta Francisco.

A turma da Yorenka está entrando também no mercado da neutralização de carbono, com o projeto Nanapini. Segundo João Fortes, a idéia é conseguir uma forma de subsistência que junte num pacote só grana, preservação ambiental e ciência tradicional. A mesma história que ele contou lá atrás, com o couro vegetal.

A Cantão neutralizou seus desfiles do ano passado nas terras da aldeia, com cerca de 300 árvores Foto: Alice Fortes

Os ashaninka selecionaram um grupo de 150 espécies de viveiro. E experimentalmente já conquistaram três clientes: a banda inglesa The Police, que neutralizou a emissão de carbono gerada na turnê pelo Brasil, em 2007, na Yorenka, com a plantação de 400 árvores; a Cantão, que neutralizou seus desfiles do ano passado nas terras da aldeia, com cerca de 300 árvores; e o chefe de cozinha Claude Troisgros, que ganhou de presente árvores para neutralizar o carbono emitido na festa do seu casamento, em março deste ano.

- Dizemos que estamos vendendo ar. O projeto está na fase experimental. No próximo semestre, vamos entrar pesado no mercado - diz João.

- O Nanapini é uma proposta de restaurar a natureza. E ainda propõe uma nova forma de viver da floresta. A Yorenka é um laboratório que vai se replicar pela Amazônia - acredita Benki.

O dia na Yorenka é longo, e o debate é intenso e apaixonado. Quando anoitece, os espíritos da floresta pedem passagem. A noite de quarta, dia 10, chega estrelada. Debaixo da velha samaúma, brancos e índios se reúnem para tomar o chá sagrado, a ayahuasca, a mesma poção mágica usada no Santo Daime. Quem comanda o ritual, uma tradição indígena milenar, de conexão espiritual, é Benki, que também é um pajé, treinado na medicina tradicional do seu povo.

Quando Benki começa a servir o líquido de cor marrom, cheiro forte, gosto intragável, todos fazem fila. A viagem começa, guiada pela força dos cânticos em arawak, a língua dos ashaninka. Só posso falar por mim, porque ayahuasca é uma trip solitária: luzes psicodélicas iluminaram a mata. Mantra de índio tem poder.

- O kamarampi, que os brancos conhecem como ayahuasca, é o nosso alimento espiritual. A bebida possibilita a descoberta da força interna. É autoconhecimento, é terapia. Os ashaninka ofertavam o kamarampi aos incas em troca de conhecimentos. Trocar conhecimento e valorizar o coletivo sempre foi a nossa história - garante Francisco, futuro cacique ashaninka.

* Karla Monteiro, Revista O Globo, 21/06/2009. Karla Monteiro e Marizilda Cruppe viajaram a convite da ONG Rede Povos da Floresta

12/06/2009

Encontros de Benki e Moisés Piyãko com organizações governamentais e não governamentais alemãs

por Eliane Fernandes*

Dia 1° de junho
No dia 1° de junho Benki Piyãko participou no Cinema Metrópolis de uma conversa com o jornalista Jens Glüsing, correspondente da revista alemã Spiegel no Brasil. Jens Glüsing e Benki Piyãko falaram ao público sobre a situação dos povos indígenas na Amazônia.


Benki Piyãko e o correspondente da revista Spiegel, Jens Glüsing

Dia 2 de junho
Apresentação do filme “A gente luta mas come fruta” na universidade de Bremen para estudantes do curso de Ciências Culturais. Benki Piyãko respondeu a diversas perguntas dos 170 estudantes de um seminário de manhã e à tarde participou de um seminário sobre Antropologia da Mídia.


Benki Piyãko ainda foi entrevistado pelos jornais Weser Kurier e Delmenhorster Kreisblatt da cidade de Bremen.


Como também pelo programa de TV „Buten und Binnen“.

Equipe do programa „Buten und Binnen“ e Benki Piyãko

Dia 4 de junho
Dia 4 de junho o líder Ashaninka Benki Piyãko deu uma aula sobre o povo Ashaninka a estudantes da 4° a 9° Série da Escola Waldorf Schule em Münster.


À tarde o líder Ashaninka Benki Piyãko se encontrou com a Prefeita da Cidade de Münster, Wendela-Beate Vilhjalmsson do partido alemão social democrata SPD.

Benki Piyãko e a Prefeita Wendela-Beate Vilhjalmsson no Friedenssaal da Prefeitura

Benki Piyãko no balcão da Prefeitura de Münster

A Senhora Wendela-Beate Vilhjalmsson foi informada sobre a situação dos povos indígenas na região fronteiriça Brasil/Peru e se comprometeu a apoiar projetos em prol da proteção do meio ambiente e das florestas na Amazônia, devido à participação da cidade de Münster na Aliança do Clima (Klima-Bündnis).

À noite foi apresentado o filme “A gente luta mas come fruta” e Benki Piyãko respondeu às perguntas do público em Münster.

Público em Münster

Dia 5 de junho
Na sexta feira, Benki Piyãko se encontrou na cidade de Göttingen com a associação alemã “Wege zur Einen Welt - Arbeitskreis Selbstbesteuerung e.V.” (Caminhos para um só mundo), que apoiou um curso de informática em dezembro de 2008 realizado no Centro Yorenka Ãtame. Os membros da associação ouviram os relatos do líder Ashaninka e demonstraram interesse em apoiar futuros projetos do Centro Yorenka Ãtame.

Conversa de Benki Piyãko com membros da associação “Wege zur Einen Welt” em Göttingen

Dia 6 de junho
No último dia da visita à Alemanha Benki Piyãko ofereceu um seminário sobre o povo Ashaninka e a questão fronteiriça entre Brasil e Peru na sede da NGO alemã “Gesellschaft für bedrohte Völker” (Sociedade em prol dos povos ameaçados), na cidade de Göttingen. O público teve a chance de se informar sobre a situação do povo Ashaninka e projetos existentes de forma intensiva. Será formado na Alemanha um grupo de trabalho para apoiar a divulgação dos projetos do povo Ashaninka e os problemas existentes na região de fronteira entre o Brasil e o Peru.


Benki Piyãko na organização “Sociedade em prol dos povos ameaçados” em Göttingen

A viagem de Benki e Moisés Piyãko à Alemanha reforçou o apoio de organizações alemãs ao povo Ashaninka e projetos da organização Apiwtxa. A Sociedade em Prol dos Povos Ameaçados continuará buscando apoio ao povo Ashaninka na Alemanha através de contato com políticos e instituições governamentais e não governamentais como também na divulgação dos projetos realizados no Centro Yorenka Ãtame.

* Eliane Fernandes, da Sociedade para os Povos Ameaçados, Gesellschaft für bedrohte Völker (GfbV), 10/06/2009

10/06/2009

Índios em Berlim

por Rafael Ventura*

Antes que anoitecesse durante uma prolongada tarde do verão alemão, representantes brasileiros do grupo indígena dos Ashaninka discursavam, na quarta-feira dia 27 de maio, num Kneipe berlinense. Era a primeira aparição em Berlim de Moisés e Benki Ashaninka numa série de palestras e encontros organizada por eles com ajuda de ONGs internacionais, encerrado em 6 de junho. Até lá, os líderes Ashaninka terão percorrido cidades européias para alertar e informar o público internacional sobre ameaças diretas não só às terras indígenas, mas também a todos os outros “povos da floresta”, nas palavras acolhedoras de Benki.

Notável é o arsenal que os Ashaninka encontraram para lutar, dentro e fora do país, contra madeireiras e invasores de terras. Com câmaras digitais empunhadas pela população local, eles já rodaram ao longo dos últimos anos dezenas de médias-metragens (alguns deles disponibilizados aqui). Ao mesmo tempo em que retratam a vida diária da população Ashaninka, os filmes divulgam também os interesses políticos da aldeia. Dessa vez, escolheram exibir o título A gente luta, mas come fruta, coroado no Brasil com o primeiro lugar no Prêmio Panamazônico ActionAid 2007.

Após os quase 90 minutos de projeção, Benki respondia às perguntas curiosas do público majoritariamente de pele branca. “Temos 150 pontos de internet espalhados pela floresta”, desfazia o líder, com voz calma, a imagem estereotipada de isolamento, “e a informação é a nossa principal arma contra o desmatamento”. A idéia é permitir difusão e acesso rápidos a informações sobre desmatamento e invasões de fronteiras para que os órgãos competentes sejam acionados sem demora.

Em meio à mata escura e alta e ao longo de rios barrentos da bacia Amazônica, o filme acompanhava também a patrulha nativa em prol do patrimônio ambiental sobre sua vigilância. Caçadores ilegais e as infames madeireiras são os principais motivos de desassossego dentro das terras Ashaninka, demarcadas pela FUNAI e reconhecidas pelo governo federal apenas em 1992.

Desde então, os mil e trezentos Ashaninka em solo brasileiro (e mais outros tantos milhares do outro lado da menos favorecida fronteira com o Peru) se converteram num caso exemplar de auto-suficiência. Com projetos de reflorestamento direcionados, multiplicaram árvores frutíferas em regiões mais próximas à aldeia. “As animais comem as frutas e a gente come eles”, se alegrava Moisés em frente à audiência. Assim, conseguiram aliar o ideal de preservação ambiental com a caça e a coleta, formas tradicionais de subsistência.

Sarah Reinke, representante da Gesellschaft für bedrohte Völker que acompanhou os líderes indígenas em encontro com parlamentares alemães, na última quinta-feira dia 28, acredita que a presença dos Ashaninka em solo europeu possa catalizar mudanças. “Houve muitas promessas de apoio e de intervenção diplomática com os governos do Peru e do Brasil”, disse ela. “O nosso papel agora é ficar de olho e garantir que mudanças aconteçam”.

Em dezembro, os líderes Ashaninka devem voltar a Europa, desta vez para participar da Conferência sobre o Clima, organizada pela ONU, em Copenhague. Talvez Benki possa então repetir seu apelo a uma platéia ainda maior: “Sem rios, não teremos água. Sem florestas, não teremos ar. Sem terra, não teremos comida”.

* Rafael Ventura, Carta Capital, 09/06/2009

01/06/2009

Relatório da vista à Alemanha

por Eliane Fernandes*

Dia 25 de Maio
Visita à Aliança do Clima (http://www.klimabuendnis.org/) em Frankfurt. Conversa com Thomas Brose sobre a situação do Povo Ashaninka e os projetos da Organização Apiwtxa.

Thomas Brose e líderes Ashaninka Moisés e Benki Piyãko

Dia 26 de Maio
11:00. Encontro em Hamburgo com a classe 10 da Escola Max Brauer Allee na sede da Organização alemã Hamburg Mal Fair (Hamburgo de Forma Justa: www.hamburgmalfair.de). Conversa com os alunos sobre a situação do Povo Ashaninka e indígenas da Região do Alto Juruá e do Projeto Yorenka Ãtame.

13:30. Encontro com representantes do Senado de Hamburgo da área do Meio Ambiente.
Conversa sobre a atual situação do povo Ashaninka e problemas das invasões madeireiras peruanas e planos do governo peruano para a extração de petróleo na região fronteiriça.

Apresentação do projeto Yorenka Ãtame e conversação sobre possível apoio da cidade de Hamburgo no projeto. Representantes do Senado entrarão em contato para possível apoio futuro aos projetos da organização APIWTXA e do Centro Yorenka Ãtame.

Benki e Moisés Piyãko em frente à Prefeitura de Hamburgo

Participaram da reunião o conselheiro de estado de Hamburgo, Sr. Christian Maaß , o Sr.Uwe Ram (Leiter Abteilung Staatsamt) e o Sr. Forkel-Schubert (Departamento do Meio Ambiente de Hamburgo), e a Sra. Jenny Wesche (Assuntos Internacionais)

19:00. Apresentação do filme “A gente luta mas come fruta” no cinema Metropolis de Hamburgo. Após o filme aconteceu um debate entre os líderes Ashaninka Benkie e Moisés Piyãko e a ativista Christina Haverkamp (apoiadora do povo Yanomami no Brasil e Venezuela) e o público.


Dia 27 de Maio
Viagem para Berlim organizada pelo escritório da Sociedade em Prol dos Povos ameaçados em Berlim.

À noite aconteceu um evento aberto ao público onde o filme “A gente luta mas come fruta” foi apresentado. Após o filme o público pode conversar com os líderes Ashaninka Benki e Moisés Piyãko.

Dia 28 de Maio
Encontro dom parlamentares do Parlamento Alemão, entre eles dos partidos União Democrata Cristão CDU (Sra. Ute Granold), Partido Verde (Die Grünen, Sr. Thilo Hoppe), Partido Social Democrata SPD (Sr. Christoph Strässer e Sra. Inge Klostermeier) e membros do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha (Sr. Günter Nooke e Sr. Christian Reißmüller).

Benki e Moisés Piyãko em frente ao Bundestag em Berlim

Os líderes Ashaninka Benki e Moisés Piyãko falaram sobre a situação das invasões na área fronteiriça Brasil/Peru e a política do governo peruano quanto à extração madeireira e retirada de petróleo e gás na região de fronteira.

O Ministério das Relações Exteriores deseja apoiar o povo Ashaninka e outros grupos indígenas da região através da divulgação de um documento criado por representantes dos Povos Indígenas relatando os problemas criados na região de fronteira por madeireiras peruanas e os planos de desenvolvimento do governo peruano. Há o intuito da participação de um representante da Embaixada Alemã em Brasília em novembro de 2009 na reunião planejada por líderes indígenas do Acre.

A representante do partico da União Democrata Cristã ofereceu a reforçar no Parlamento Europeu o controle sobre a certificação de madeiras, já que em 2009 ocorrerão votações sobre o controle de certificados criados por órgãos diversos.

A Sociedade em Prol dos Povos Ameaçados repassará as informações necessárias para que tanto os representantes dos partidos como o Ministério das Relações Exteriores possam dar entrada nas medidas necessárias a serem tomadas para o apoio ao povo Ashaninka na luta contra as invasões madeireiras e planos de governo peruano.

Funcionários do parlamentar Christoph Strässer (Partido Social Democrata Alemão SPD)

Benki Piyãko, parlamentar Thilo Hoppe (Partido Verde) e Moisés Piyãko

Dia 29 de maio
Reunião com a imprensa de Berlim para relatar a situação do povo Ashaninka e os projetos da organização Apiwtxa e o Centro Yorenka Ãtame.


Dia 30 de maio
Visita à escola de plantio de árvores Clasen & Co, para conhecer os métodos de plantio e cuidado das mudas na Alemanha.

Moisés Piyãko, Heike Schiefelbein e Benki Piyãko

Participação dos líderes Ashaninka Benki e Moisés Piyãko no programa de Rádio Teuto-brasileiro Brasilien Magazin no canal TIDE 96,0.


Dia 31 de maio
Visita ao Centro Ambiental de Energias Regenerativas “Artefact” (http://www.artefact.de/) na cidade de Glücksburg na Alemanha para conhecer métodos alternativos e ecológicos de como produzir energia e planejar construções ecológicas.

*Eliane Fernandes, da Sociedade para os Povos Ameaçados, Gesellschaft für bedrohte Völker (GfbV), 01/06/2009