26/12/2016

POVOS INDÍGENAS ASHANINKA E PAITER SURUÍ COMPARTILHAM SABERES EM INTERCÂMBIO

Um grupo de cinco membros representou a Comunidade Ashaninka da Apiwtxa na visita à Terra Indígena Sete de Setembro do Povo Paiter Suruí, em Rondônia. A visita, ocorrida no último mês de novembro, teve duração de três dias, e integrou uma agenda de intercâmbio que vem sendo realizada entre os dois Povos, com apoio da Forest Trends.

Os representantes Ashaninka foram recebidos por lideranças e membros do Povo Suruí na Aldeia Linha Nove no início da tarde da quarta-feira (23). Ali, após o almoço, os visitantes Erishi, Giovani, Enisson, Antxoki, e Otxe, fizeram uma explanação sobre a identidade, a cultura, o modo e o plano de vida de seu Povo Ashaninka. A apresentação foi acompanhada da distribuição de materiais informativos que a Comunidade Apiwtxa vem produzindo para compartilhamento de suas experiências de gestão territorial.

Na quinta-feira (24), houve uma visita guiada por membros da Comunidade Suruí de Sete de Setembro ao centro de plantas medicinais da Terra Indígena. A Farmácia Viva, como é chamado pelos moradores de Sete de Setembro, é sediada na Aldeia Linha Nove. A demonstração e as explicações foram conduzidas por moradores da Comunidade.
De volta à cidade, o grupo participou do lançamento do livro 'Histórias do começo e do fim do mundo – o contato do povo Paiter Suruí', concebido com o objetivo de manter viva a cultura e história desse Povo. O evento ocorreu às 19h30 no auditório da Câmara Municipal de Cacoal (RO), município localizado a 480 quilômetros de Porto Velho.

O último dia de intercâmbio, sexta-feira (25), aconteceu na Aldeia Lapetânia – Linha 11. Ali, os Suruí apresentaram o viveiro de mudas em que a Comunidade vem trabalhando no âmbito do Projeto Pamini, que conta com apoio da Forest Trends. A ação é parte de um plano de reflorestamento do território, por meio do consórcio de espécies, na implementação de sistemas agroflorestais.

Durante a tarde, todos os presentes formaram uma grande roda de conversa para trocas interculturais de experiências sobre diversos temas, como planos de gestão e de vida, formas de organização comunitária, gestão territorial, e alternativas de manejo de recursos naturais.

A última noite da visita Ashaninka foi marcada por festejos interculturais, com trocas de presentes que incluíram belíssimas peças de artesanato produzidas por ambos os Povos.
A Terra Indígena Sete de Setembro onde vive o Povo autodenominado Paiter, é localizada ao norte do município de Cacoal, em Rondônia. Foi demarcada em 1976, sendo declarada e homologada apenas no ano de 1983.

Em março deste ano um grupo de integrantes do Povo Paiter e Yawanawá passaram 3 dias com os Ashaninka da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, concretizando a primeira etapa do intercâmbio realizado entre os dois Povos.

Essa ação tem sido compreendida como uma excelente oportunidade de troca de saberes, e como selo de uma aliança intercultural importante para o fortalecimento da luta pela promoção e proteção dos povos indígenas e seus direitos e pela conservação ambiental, bem como para o sucesso dos projetos comunitários que vêm sendo desenvolvidos pelas sociedades Ashaninka e Paiter Suruí.

15/12/2016

ASSEMBLEIA DA OPIRJ DISCUTE AÇÕES INDÍGENAS E INDIGENISTAS PARA O ALTO JURUÁ

De 28 a 30 de novembro mais de 60 indígenas reuniram-se na Terra Indígena Puyanawa em Mâncio Lima, no Acre, para a realização da 7º Assembleia da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá – OPIRJ. O encontro foi financiado pela Fundação Nacional do Índio – Funai/CR Alto Juruá e marcado por importantes reflexões e debates.  

Dentre os assuntos da pauta, estavam o papel da OPIRJ na representatividade dos Povos da região, reflexões sobre a atuação e estratégias de fortalecimento do movimento indígena, e avaliações sobre a política indigenista, moderado pelo Coordenador da OPIRJ, Francisco Piyãko.


No campo das políticas públicas foi possível realizar análises conjunturais sobre educação e saúde indígena, e sobre a ação da Funai no Alto Juruá. O Coordenador do Distrito Sanitário Indígena (DSEI), Edir Clemente, o Coordenador Regional da Funai, Luiz Nukini, e a Assessoria dos Povos Indígenas do Acre, representado pelo Sr. José Ramos, apresentaram balaços da atuação dos órgãos, contribuindo para as análises e discussões.

Ocorreu também um debate em torno da consulta aos Povos da região, que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN pretende realizar sobre o registro dos rituais de Ayahuasca Lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Duas representantes do órgão estiveram presentes para iniciar as conversas sobre o tema, buscando reunir subsídios para a construção do processo de consulta livre, prévia e informada, cuja realização é legalmente exigida no Brasil como condição para a adoção de qualquer medida que tenha relação, impacto, ou potencial para afetar povos indígenas. Os indígenas presentes afirmaram ter muitas dúvidas sobre o assunto, e deixaram marcada sua posição quanto à complexidade de realização de uma consulta a respeito, afirmando que seus direitos devem ser integralmente cumpridos.           

Outro destaque foi o planejamento de um projeto com objetivo de promover o fortalecimento institucional da OPIRJ e sociocultural dos Povos do Alto Juruá, a articulação entre as comunidades indígenas, e a implementação de ações voltadas à gestão territorial e ambiental de seus territórios, para isso foram definidos cinco eixos para o projeto.
O principal diferencial do projeto idealizado é o protagonismo das próprias lideranças indígenas da região nos processos referentes a sua construção e implementação. Ficou estabelecida uma agenda de trabalhos futuros, com intuito de dar prosseguimento à construção do projeto.

Na Assembleia, estiveram presentes representantes dos dez Povos Indígenas que integram a Organização, e a participação de todos foi muito ativa e relevante, principalmente no âmbito das oportunidades de apoio no fortalecimento dos povos da região.

As lideranças presentes fizeram uma positiva avaliação do encontro, que representou uma excelente oportunidade de reunir os Povos Indígenas para refletir e pensar soluções para os principais desafios que atualmente estão colocados para o bem viver das comunidades da região do Alto Juruá.
Fotos de Carolina Comandulli

14/12/2016

ASHANINKA DA APIWTXA BARRA ACESSO DE MADEIREIROS PERUANOS NO RIO AMÔNIA

Tendo tomado conhecimento de que uma empresa peruana rumava para territórios indígenas Ashaninka no Peru visando iniciar atividades de manejo florestal, lideranças da Apiwtxa, no âmbito de sua ação de monitoramento territorial, interditaram a passagem da referida equipe no interior da Terra Indígena, no curso do Rio Amônia. Na ocasião, a equipe foi chamada a prestar esclarecimentos aos membros da Apiwtxa a respeito das atividades que buscavam realizar nas comunidades peruanas. O fato ocorreu na Aldeia Apiwtxa no último dia 15 de novembro, quando três funcionários da empresa subiam o Rio Amônia em direção às Comunidades Nativas Shawaya e Sawawo, ambas situadas no Peru.

Os três viajantes se identificaram como representantes da empresa Forestal Ucayali, relatando que o objetivo da viagem era promover um ciclo de conversas com as comunidades sobre projetos que, atrelados à construção de uma estrada e apoiados pelo Governo peruano, levariam desenvolvimento econômico, social, e em saúde às populações locais, e que com isso tiraram as comunidades do isolamento. A empresa, segundo seus representantes, teria autorização do governo peruano para realizar a visita. Contudo, nenhum documento foi apresentado nesse sentido.


Na mesma data, diversas lideranças e membros da Apiwtxa estavam reunidos na aldeia em razão de um curso de Gestão, realizado entre 14 e 16 de novembro, do qual participavam também lideranças Ashaninka de Sawawo. A chegada dos representantes da empresa durante essa ocasião, possibilitou tantos aos Ashaninka da Apiwtxa, quanto aos de Sawawo, a reafirmação de suas organizações sociais, e manifestação de sua visão de desenvolvimento, que caminha no sentido da proteção da floresta, da valorização cultural, da conservação ambiental, e do protagonismo indígena na promoção do bem viver das comunidades Ashaninka. Todos negaram interesse na realização de projetos que envolvessem retirada e comercialização de madeira.
Foi também rememorada a mal sucedida experiência vivida pela comunidade Sawawo, que investiu na parceria proposta pela empresa Forestal Venal e afirmaram sua contrariedade com a repetição de empreendimentos dessa natureza. A empresa Venal executou um plano de manejo no território de Sawawo, período no qual a comunidade recebeu altas somas em dinheiro, as quais não se reverteram em benefícios sustentáveis para o bem estar de seus moradores quando da saída da empresa, além de ter causado a degradação da floresta e a desestruturação social, o que impactou as comunidades vizinhas.

A decisão dos Ashaninka, então, foi no sentido de impedir que os viajantes seguissem pelo Rio Amônia. Sendo assim, caso a empresa deseje manter o plano de realizar as conversas, o acesso às comunidades não poderá dar-se por essa via. Além disso, declararam que se há interesse por parte do governo peruano nesse empreendimento, seus representantes devem buscar um diálogo com o governo brasileiro a fim de avaliar o interesse de ambas as partes e realizar as consultas devidas às comunidades afetadas.

13/12/2016

APIWTXA INVESTE NA EXPRESSÃO DE SUA MARCA

No mês de novembro a Comunidade Ashaninka do Amônia recebeu os profissionais Carolina Montenegro e Cilas Nascimento Sousa, que estiveram no Centro Yorenka Ãtame e na Aldeia Apiwtxa a fim de realizar um diagnóstico relativo à elaboração da marca da Apiwtxa.

Os consultores foram contratados com recursos do Fundo Amazônia/BNDES, no âmbito do Projeto Alto Juruá, para construir uma proposta de marca a ser utilizada para expressar a identidade dos produtos e serviços realizados pela Apiwtxa.

A ideia é que essa marca possa comunicar os valores inerentes aos produtos e serviços que a comunidade desenvolve, tais como peças de artesanato, mercadorias derivadas do manejo de sistemas agroflorestais, e outros.

Durante essa visita, que durou cerca de 20 dias, a equipe participou de algumas atividades de rotina e rituais tradicionais da comunidade, além de entrevistar mais de 10 pessoas entre lideranças e colaboradores da Associação. O objetivo foi pesquisar e reunir elementos que permitam apontar e compreender os valores fundamentais para expressar a identidade dos Ashaninka da Apiwtxa.
Segundo Carolina Montenegro, chamou a atenção durante esse trabalho, o alinhamento e a convergência das ideais apresentadas nas falas de todos os entrevistados.

O trabalho de construção da marca contará, ainda, com etapas futuras, tais como uma nova visita para apresentação e discussão dos resultados do diagnóstico, e da elaboração efetiva da proposta de marca, que deverá ser, por fim, validada pela comunidade antes de passar a ser adotada.

12/12/2016

APIWTXA COLHE FRUTOS DE PROJETO DE PISCULTURA

O projeto Fortalecendo Experiências Sócio-produtivas Sustentáveis no Alto Juruá, com financiamento da Fundação Banco do Brasil/Fundo Amazônia, que teve por objetivos fomentar a piscicultura e os sistemas agroflorestais na região, começou a ser desenvolvido pela Associação Apiwtxa em janeiro de 2015. O projeto teve duração de um ano e meio, durante os quais foram construídos açudes e tanques e foi realizada limpeza de lagos para reprodução de peixes. Entre fevereiro e março do presente ano, foram introduzidos 80 mil alevinos nos açudes e a Apiwtxa organizou-se para realizar seu cuidado.  Trata-se de uma atividade nova para os Ashaninka, o que traz desafios e aprendizados no processo.
Nos meses de outubro e novembro foram realizadas as primeiras despescas, tanto na aldeia Apiwtxa, quanto no Centro Yorenka Ãtame e no Assentamento PA Amônia/Comunidade Raio do Sol. Na aldeia, os peixes já foram consumidos em reuniões comunitárias e também comercializados internamente. Alguns dos peixes capturados (dentre eles matrinchãs, tambaquis e piaus) chegam a pesar mais de 2 quilos, indicando a viabilidade dessa alternativa.
O modo que a Apiwtxa encontrou para gerir da melhor forma cada açude na aldeia foi a de responsabilizar determinadas famílias da comunidade pelo cuidado de açudes específicos. Assim, cada família encarregada recebe uma porcentagem dos lucros gerados com a comercialização interna dos peixes na aldeia, dando como contrapartida seu comprometimento com o zelo cotidiano dos peixes. Já os momentos de limpeza dos açudes são realizados em atividades coletivas. A comercialização dos peixes, por sua vez, é feita de modo centralizado, por meio da Cooperativa Ayõpare. Os peixes também servem de fonte de alimento quando da realização de eventos comunitários da Apiwtxa.
Neste momento, a ideia é investir o lucro da despesca na compra de mais alevinos, para dar sustentabilidade à iniciativa. Foi identificado que a demanda pela compra de peixes, tanto na aldeia quanto no Centro Yorenka Ãtame, é superior à capacidade de produção atual dos açudes, de modo que a ampliação desta iniciativa está nos planos da Apiwtxa.  Inclusive, os moradores da Reserva Extrativista do Alto Juruá também estão interessados em trazer para suas comunidades este tipo de alternativa, pois ela fortalece não apenas a segurança alimentar, quanto a geração de renda comunitária.