Tendo tomado conhecimento de que uma empresa peruana
rumava para territórios indígenas Ashaninka no Peru visando iniciar atividades de
manejo florestal, lideranças da Apiwtxa, no âmbito de sua ação de monitoramento
territorial, interditaram a passagem da referida equipe no interior da Terra
Indígena, no curso do Rio Amônia. Na ocasião, a equipe foi chamada a prestar
esclarecimentos aos membros da Apiwtxa a respeito das atividades que buscavam
realizar nas comunidades peruanas. O fato ocorreu na Aldeia Apiwtxa no último
dia 15 de novembro, quando três funcionários da empresa subiam o Rio Amônia em
direção às Comunidades Nativas Shawaya e Sawawo, ambas situadas no Peru.
Os três viajantes se identificaram como
representantes da empresa Forestal Ucayali, relatando que o objetivo da viagem
era promover um ciclo de conversas com as comunidades sobre projetos que, atrelados
à construção de uma estrada e apoiados pelo Governo peruano, levariam
desenvolvimento econômico, social, e em saúde às populações locais, e que com
isso tiraram as comunidades do isolamento. A empresa, segundo seus
representantes, teria autorização do governo peruano para realizar a visita.
Contudo, nenhum documento foi apresentado nesse sentido.
Na mesma data, diversas lideranças e membros da
Apiwtxa estavam reunidos na aldeia em razão de um curso de Gestão, realizado
entre 14 e 16 de novembro, do qual participavam também lideranças Ashaninka de
Sawawo. A chegada dos representantes da empresa durante essa ocasião,
possibilitou tantos aos Ashaninka da Apiwtxa, quanto aos de Sawawo, a
reafirmação de suas organizações sociais, e manifestação de sua visão de
desenvolvimento, que caminha no sentido da proteção da floresta, da valorização
cultural, da conservação ambiental, e do protagonismo indígena na promoção do
bem viver das comunidades Ashaninka. Todos negaram interesse na realização de
projetos que envolvessem retirada e comercialização de madeira.
Foi também rememorada a mal sucedida experiência
vivida pela comunidade Sawawo, que investiu na parceria proposta pela empresa Forestal
Venal e afirmaram sua contrariedade com a repetição de empreendimentos dessa
natureza. A empresa Venal executou um plano de manejo no território de Sawawo,
período no qual a comunidade recebeu altas somas em dinheiro, as quais não se
reverteram em benefícios sustentáveis para o bem estar de seus moradores quando
da saída da empresa, além de ter causado a degradação da floresta e a
desestruturação social, o que impactou as comunidades vizinhas.
A decisão dos Ashaninka, então, foi no sentido de
impedir que os viajantes seguissem pelo Rio Amônia. Sendo assim, caso a empresa
deseje manter o plano de realizar as conversas, o
acesso às comunidades não poderá dar-se por essa via. Além disso, declararam
que se há interesse por parte do governo peruano nesse empreendimento, seus
representantes devem buscar um diálogo com o governo brasileiro a fim de
avaliar o interesse de ambas as partes e realizar as consultas devidas às
comunidades afetadas.
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