14/12/2016

ASHANINKA DA APIWTXA BARRA ACESSO DE MADEIREIROS PERUANOS NO RIO AMÔNIA

Tendo tomado conhecimento de que uma empresa peruana rumava para territórios indígenas Ashaninka no Peru visando iniciar atividades de manejo florestal, lideranças da Apiwtxa, no âmbito de sua ação de monitoramento territorial, interditaram a passagem da referida equipe no interior da Terra Indígena, no curso do Rio Amônia. Na ocasião, a equipe foi chamada a prestar esclarecimentos aos membros da Apiwtxa a respeito das atividades que buscavam realizar nas comunidades peruanas. O fato ocorreu na Aldeia Apiwtxa no último dia 15 de novembro, quando três funcionários da empresa subiam o Rio Amônia em direção às Comunidades Nativas Shawaya e Sawawo, ambas situadas no Peru.

Os três viajantes se identificaram como representantes da empresa Forestal Ucayali, relatando que o objetivo da viagem era promover um ciclo de conversas com as comunidades sobre projetos que, atrelados à construção de uma estrada e apoiados pelo Governo peruano, levariam desenvolvimento econômico, social, e em saúde às populações locais, e que com isso tiraram as comunidades do isolamento. A empresa, segundo seus representantes, teria autorização do governo peruano para realizar a visita. Contudo, nenhum documento foi apresentado nesse sentido.


Na mesma data, diversas lideranças e membros da Apiwtxa estavam reunidos na aldeia em razão de um curso de Gestão, realizado entre 14 e 16 de novembro, do qual participavam também lideranças Ashaninka de Sawawo. A chegada dos representantes da empresa durante essa ocasião, possibilitou tantos aos Ashaninka da Apiwtxa, quanto aos de Sawawo, a reafirmação de suas organizações sociais, e manifestação de sua visão de desenvolvimento, que caminha no sentido da proteção da floresta, da valorização cultural, da conservação ambiental, e do protagonismo indígena na promoção do bem viver das comunidades Ashaninka. Todos negaram interesse na realização de projetos que envolvessem retirada e comercialização de madeira.
Foi também rememorada a mal sucedida experiência vivida pela comunidade Sawawo, que investiu na parceria proposta pela empresa Forestal Venal e afirmaram sua contrariedade com a repetição de empreendimentos dessa natureza. A empresa Venal executou um plano de manejo no território de Sawawo, período no qual a comunidade recebeu altas somas em dinheiro, as quais não se reverteram em benefícios sustentáveis para o bem estar de seus moradores quando da saída da empresa, além de ter causado a degradação da floresta e a desestruturação social, o que impactou as comunidades vizinhas.

A decisão dos Ashaninka, então, foi no sentido de impedir que os viajantes seguissem pelo Rio Amônia. Sendo assim, caso a empresa deseje manter o plano de realizar as conversas, o acesso às comunidades não poderá dar-se por essa via. Além disso, declararam que se há interesse por parte do governo peruano nesse empreendimento, seus representantes devem buscar um diálogo com o governo brasileiro a fim de avaliar o interesse de ambas as partes e realizar as consultas devidas às comunidades afetadas.

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