29/09/2007

O Ibama intensifica fiscalização na região do Vale do Juruá

Marcos são reavivados em operação binacional entre Brasil e Peru para garantir a segurança da região de fronteira

por Sandra Assunção*

A fiscalização nas cidades do vale do Juruá começou há 15 dias e até agora já foram descobertos cerca de 2,5 mil hectares de desmate. A direção do Ibama acredita que 70% do desmate seja ilegal, efetuado sem a autorização do Ibama. Os donos das terras devem comprovar a legalidade da derrubada. O gerente do órgão em Cruzeiro do Sul, Márcio Venícius relata que muitas delas foram realizadas na área do projeto de assentamento Santa Luzia. Ele quer propor uma parceria com o Incra na fiscalização destas terras.

A atenção das autoridades ambientais e militares se volta também para a área de fronteira entre Brasil e peru. É comum a retirada de madeira brasileira por madeireiros peruanos, que agora executam um plano de manejo na área que eles afirmam ser de propriedade daquele país. As autoridades brasileiras afirmam que a região de exploração está em solo nacional.

MARCOS DE FRONTEIRA

Para evitar dúvidas, o exército brasileiro reaviva os marcos da fronteira entre os dois países datados de 1926. O trabalho é feito por trinta homens do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e Peru e da unidade do exército de Cruzeiro do Sul. Eles usam barcos e helicópteros para descer de rapel e resgatar os marcos no meio da floresta fechada ou dentro de igarapés. Também estão sendo instalados novos marcos, enormes blocos de cimento para demarcar toda a área da fronteira entre o Brasil e o Peru dentro do território acreano.

*Sandra Assunção, Rádio Aldeia FM - Cruzeiro do Sul
Agência de Notícias do Acre, 26-09-2007 - 17h37

27/09/2007

Audiência na Câmara dos Deputados

Henrique Afonso defende fronteiras amazônicas*

A Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional da Câmara dos Deputados realizou uma audiência pública sugerida pela deputada Dalva Figueiredo PT/AP sobre “Fiscalização e Controle de Fronteiras da Região Amazônica”.

Foram expositores Flávio Montiel, Diretor de Proteção e Controle Ambiental do Ibama, Vice-Almirante Arnon Lima, Diretor de Política e Estratégia do Ministério da Defesa e Mauro Spósito, Coordenador de Operações de Fronteira da Polícia Federal.

Henrique Afonso apresentou um resumo da carta-denúncia dos Ashaninkas sobre a invasão de suas terras e de outras áreas indígenas em território juruaense-brasileiro, e ressaltou que o problema é recorrente, embora as operações conjuntas do Ibama, Polícia Federal, Exército tenham sido relevantes para amortecer a exploração ilegal de madeira por peruanos. Informou que no sobrevôo realizado no início da semana pelo Ibama foram vistos tratores e uso de motosserras nas proximidades da fronteira. Apresentou também os riscos das atividades de prospecção depetróleo no lado peruano, que podem contaminar o rio Juruá e Purus, a partir das cabeceiras dos rios que nascem no Peru.

Para o deputado, é necessário que a diplomacia brasileira trate com mais vigor a questão com o governo do Peru, país cujas leis ambientais são "frouxas" e a livre concessão de exploração madeireira na fronteira com o Acre traz problemas novos como o estímulo ao deslocamento de indígenas peruanos avançando sobre áreas indígenas em território brasileiro, ocasionando conflitos entre os grupos indígenas. "Num contexto mundial importante sobre mudanças climáticas, é preciso um programa sistemático de defesa de nossas fronteiras, de nossas florestas, de nossos indígenas, de nossos ribeirinhos, inclusive envolvendo os demais países fronteiriços da Amazônia", afirmou Henrique.

Direto do AC24 Horas
Rio Branco, quinta, 27 de setembro de 2007



26/09/2007

Eles existem

Amigos,
enquanto o Peru, com sua política econômica de intensa exploração da floresta, alimenta empresas como a Forestal Venao que não respeitam planos de manejo nem o Território do Brasil, nós que vivemos na floresta da fronteira Brasil-Peru estamos todos em constante ameaça. E, entre nós, estão as populações de índios isolados. Vejam as informações mais recentes que o jornalista Altino Machado publicou em seu blog a respeito da existência dos índios isolados na região.



ELES EXISTEM

por Altino Machado*

Embora precárias, as fotos abaixo servem para dissipar eventuais dúvidas quanto à existência de índios isolados na fronteira Brasil-Peru.















Na terça-feira passada, funcionários peruanos da Intendência de Áreas Naturais Protegidas do Instituto Nacional de Recursos Naturais sobrevoaram o rio de Las Piedras.

Avistaram a um grupo de cinco tapiris construídos recentemente com folhas de palmeiras na margem esquerda do rio. Avistaram, ainda, a um grupo de 21 indígenas, entre mulheres, crianças e jovens, que saíram para ver o avião, mas logo se dispersaram. Havia outros cinco acampamentos abandonados nas duas margens do rio. Devido à estiagem, os índios isolados acampam nas praias, onde se alimentam de ovos de tartarugas.

Os índios isolados se deslocam entre as cabeceiras das bacias dos rios Sepahua, Inuya, Mapuya e Juruá, a norte; no médio curso dos rios Manu, Los Amigos, Las Piedras e Tahuamanu, ao sul; a oeste, chegam às cabeceiras dos rios Dorado, Serjali, Camisea, Timpia e Ticumpinia; e, a oeste, atravessam a fronteira Peru-Brasil. Para eles não existem limites políticos nem nacionalidades.



















*Altino Machado, 25/09/2007
Direto do Blog do Altino


23/09/2007

Exigimos ser ouvidos pela SmartWood/Rainforest Alliance


Aldeia Apiwtxa, 22 de setembro de 2007.

Amigos,

Saí da nossa aldeia dia 17 de setembro com outros líderes Ashaninka, Wewito, Moisés, David, Valdecir e Sooro, para ver as invasões que estão acontecendo no Igarapé Revoltoso, entre os marcos 42 e 43.

Ficamos nesse local até o dia 19 e retornamos dia 20 para a aldeia. Vimos vários caminhos usados para procurar madeira, ouvimos barulho de motoserra e muitos vestígios de caçada.

Nós não demos continuidade à nossa caminhada para evitar encontrar e evitar um conflito com os madeireiros.

Nós tivemos informações que são pequenos grupos de pessoas que são mandados por grandes empresas para tirar madeira roubada de nossa terra.

O tamanho da área que avançaram com seus caminhos deu para perceber que futuramente a destruição vai ser bem maior.

Estamos planejando uma outra ida, com mais pessoas, para destruir todos os locais e expulsar quem estiver invadindo nossa terra.

Nessa viagem ao Revoltoso, mais uma vez, deu para ver o tamanho da invasão e que já chegaram na antiga destruição feita pelos Cameli, em 1985 e 1987, já entrando em uma área que fica entre o rio Revoltoso e o rio Amoninha.

Até hoje estamos aguardando uma reunião com a SmartWood/Rainforest Alliance, que certificou com o padrão FSC a empresa Forestal Venao, principal responsável pelos desmatamentos ilegais na nossa área.

Queremos falar das invasões da empresa Forestal Venao, que vem invadindo nossa fronteira e nossa terra com máquinas pesadas, derrubando a floresta, retirando a madeira, poluindo nossos rios e igarapés.

Mas nada nos informam sobre a auditoria que a SmartWood faria no lado peruano para investigar as invasões da Forestal Venao. Nem sabemos se a vistoria já foi realizada, de que forma foi feita, qual o cronograma dos deslocamentos, os locais efetivamente visitados e os resultados.

Queremos uma resposta o mais rápido possível a respeito da vinda da equipe da SmartWood responsável pela investigação.

Exigimos ser ouvidos. Queremos uma reunião com a SmartWood, aqui na região, sobre as invasões. Queremos que vejam com os próprios olhos as áreas no Brasil da região de fronteira, dentro da terra Ashaninka, e até mesmo dentro da Reserva Extrativista do Rio Juruá, invadidas pela madeireira peruana Forestal Venao.

E, se vierem, nós mesmos podemos ir junto mostrar onde ficam e como crescem todos os dias as áreas invadidas e a nossa floresta derrubada. Podemos também chamar os amigos da Foz do Breu e da Reserva Extrativista, para que eles mesmos mostrem o estrago que a Forestal Venao vem fazendo nas áreas deles.

Queremos que a SmartWood constate por si mesma as derrubadas de madeira em Território brasileiro pela madeireira peruana Forestal Venao.

Nós sabemos que uma só visita será suficiente para que a SmartWood/Rainforest Alliance cancele imediatamente a certificação florestal que deu à empresa Forestal Venao.

Isaac Piyãko
Líderança do Povo Ashaninka do Rio Amônia


Notícias da Cooperativa Ashaninka Ayonpare



Ashaninkas abrem loja em shopping e dão exemplo de empreendedorismo

por Sandra Assunção*


A loja Apiwtxa dos índios Ashaninka do Rio Amônia fica em um Shoping Center no centro de cruzeiro do sul. Bolsas, cusmas (a vestimenta tradicional dos Ashaninka, feita de algodão pelas mulheres da aldeia) tambores, pulseiras, colares, cachimbos e CDs E Dvds gravados por eles, são alguns dos artigos vendidos na loja, inaugurada em abril deste ano. Uma cusma masculina, por exemplo, é vendida por R$ 400,00 e as femininas saem por R$ 150 e R$ 200.

Os Ashaninka já fazem e vendem artesanato na aldeia desde 1992, quando a associação dos moradores foi fundada no local. Várias peças são vendidas em duas lojas de São Paulo e há muita encomenda da França e da Alemanha. Em cruzeiro do sul o artesanato era vendido em uma residência, mas com o aumento das encomendas e por causa da escola Yorenkã atame, recentemente inaugurada pelos Ashaninka em frente á sede do município de Marechal Taumaturgo, houve necessidade da abertura da loja.

As vendas, segundo a administradora Alexandrina Pinhanta, estão boas. “Além de pessoas de foram, muita gente de Cruzeiro do Sul procura nosso artesanato. Fazemos também vendas em abertura de eventos e continuamos nossas vendas em outros estados e países. Um empresário de Fortaleza esteve aqui recentemente e levou muitas peças para vender e também para compor um museu do nordeste”, relata.

Alexandrina lembra que o artesanato, desde a década de 90, é responsável pela manutenção do “dia a dia” da Aldeia Apiwtxa no Rio Amônia, próximo a Marechal Taumaturgo, onde vivem cerca de 500 índios. “Lá se planta, há a caça e a pesca, mas há necessidade de outros insumos para manter tanta gente e o artesanato sempre garantiu renda para nossa Associação”, conta Alexandrina.

Francisco Pinhanta, um dos líderes dos Ashanika e atual assessor indígena do governo do Estado, diz que o acesso á equipamentos como computadores, motores de energia, GPS e outros, por meio do artesanato, garantiram também uma boa comunicação com o mundo externo. A tecnologia possibilitou a denúncia de crimes ambientais e a divulgação de várias ações desenvolvidas na aldeia, o que atraiu muita gente. A Aldeia Apiwtxa tem escola e posto de saúde, além de um telefone público-comunitário.

EMPREENDEDORISMO NA FLORESTA

O empreendedorismo dos Ashaninka começou pelo aspecto ambiental. Com as terras constantemente invadidas por madeireiros peruanos, eles apostaram na organização e na defesa sistemática de seu território e do meio ambiente. Desenvolveram métodos de manejo que garantem peixes, animais e recursos madeireiros e não madeireiros de forma sustentável. Conseguiram denunciar as invasões em viagens e por meio do telefone e também da internet, instalados na aldeia. Os equipamentos foram conseguidos, em grande parte, com recursos do artesanato.

Para abrigar pesquisadores, ambientalistas e outros visitantes da aldeia, por causa dos problemas ambientais, os Ashaninka construíram em 2005, em parceria com Governo do Estado, uma pousada com cozinha e banheiros com água encanada. A pousada já recebeu visitantes ilustres e autoridades políticas, militares e ambientalistas.

Em julho deste ano, um novo empreendimento: a Escola Saberes da Floresta _ YORENKÃ ATAME – Saberes da Floresta - localizada em frente á sede do município de Marechal Taumaturgo. O objetivo da escola é ensinar índios e brancos, práticas como o manejo florestal, de animais, coleta de sementes, artesanato e outros. Um curso de Agente Agro florestal foi ministrado para cerca de 100 seringueiros e ribeirinhos da localidade por Benki Ashaninka, que desenvolve manejo agro florestal na aldeia desde a década de 90. Na aldeia também há criação e manejo de peixes e quelônios para repovoar os rios. A apicultura é outra atividade que garante mel para o consumo da aldeia.

VISITAS ILUSTRES

A Escola Yorenkã atame foi idealizada pelos índios com vários parceiros como o casal de antropólogos Mauro e Daniela Almeida, da Universidade de Brasília, o vice-presidente do IBOPE e da WWF, Luis Paulo Montenegro, Txai Antônio Macêdo, educadora Vera Olinda e muitos outros. Os recursos vieram de várias fontes e hoje a escola tem estrutura completa de salas, bibliotecas e equipamentos modernos para a realização de cursos. No inicio de agosto a ex-primeira dama da França, Daniele Miterrand, ficou dois dias na escola. Ela, que preside uma ONG ambientalista, foi conhecer a realidade do local, para tentar mudanças nos critérios que medem índices de qualidade de vida de todo o planeta.

Ela ficou encantada com as ações da escola e com o artesanato Ashaninka “ Aqui no meio da floresta, onde não há elevadores ou creches, há sim qualidade de vida dentro dos costumes tradicionais dos índios, seringueiros e ribeirinhos”, declarou a ex-primeira dama da França Daniele Miterrand, que dormiu uma noite na escola indígena o meio da floresta amazônica.

*Sandra Assunção, Página 20, Sebrae-Página do Empreendedor, Rio Branco, 23/09/2007


10/09/2007

Índios isolados na fronteira Brasil-Peru e as madeireiras peruanas

O jornalista Altino Machado entrevistou, no último dia 2 de setembro, o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles, que chefia a Frente de Proteção Etno-Ambiental do Alto Envira, na fronteira do Brasil com o Peru.

Assista aqui a entrevista de Meirelles sobre a ameaça vivida pelos índios isolados na região e a relação com as madeireiras peruanas.