JORNAL NACIONAL, EDIÇÃO DO DIA 26/05/2008
Assista a reportagem AQUI
No Brasil, a tecnologia também está unindo pessoas e provocando mudanças profundas. Nesta semana, o Jornal Nacional vai exibir uma série de reportagens sobre o crescimento do uso do computador e da internet e o poder dessas ferramentas.
Nesta segunda, os repórteres Flávio Fachel e Alberto Fernandez vão contar a história de uma mensagem eletrônica que evitou uma guerra.
Internet. Um bilhão de pessoas conectadas em todo o planeta, 150 milhões de páginas, dois milhões de e-mails por segundo cruzando os continentes na velocidade de um clique.
Que poder teria uma mensagem dessas para um povo com tradição guerreira milenar no meio da floresta?
Alto-Juruá, fronteira do Brasil com o Peru, no Acre, terra dos Ashaninka. As mulheres cuidam da comida, das roupas, das crianças; os homens não descuidam da vigilância. Na mata, nos rios e até nos programas de recados no rádio que vão ao ar todos os dias na região.
Eles não buscam só recados. Procuram pistas que indiquem a presença de invasores vindos do outro lado da fronteira. Madeireiros peruanos de olho no cedro e no mogno existentes na reserva indígena.
Não é seguro usar nem um tradicional rádio, presente em quase todas as aldeias da Amazônia.
“Falta ter segurança, porque às vezes tem coisa secreta que só a Polícia Federal e nós podemos saber”, explica um índio.
A reunião ao luar, em volta da fogueira, é decisiva: "Umanarentzi", dizem os Ashaninka. Significa guerra. Guerra contra os invasores.
De um lado, madeireiros peruanos, equipados com rádios sofisticados, de longo alcance e armas de grosso calibre, até fuzis.
De outro, os índios Ashaninka se defendendo como sempre se defenderam: usando seus arcos e flechas.
Assim que encontraram esse novo inimigo, os índios logo perceberam que iam precisar de armas bem mais poderosas.
Uma antena para conexão, um painel solar para a energia, um computador, que só cinco índios sabem operar. Foi Benki, o filho do cacique, que teve a idéia de levar tecnologia para os guerreiros da floresta.
A decisão da tribo de enfrentar os invasores virou mensagem eletrônica espalhada para ONGs de todo o mundo. E enviada também para o Governo Federal.
"Queremos solicitar a presença das autoridades do nosso país", escreve um índio.
As reivindicações indígenas foram recebidas na Presidência da República. A mensagem foi repassada para a Polícia Federal e para o comando do Exército.
Os arcos e flechas Ashaninkas foram reforçados por um esquadrão de helicópteros das Forças Armadas. O Estado respondeu ao e-mail vindo da floresta, prendeu os invasores e as toras retiradas de forma ilegal foram dinamitadas.
Os helicópteros foram embora e os Ashaninkas continuam a vigilância na fronteira. Só que, agora, os arcos e as flechas ganharam a força da comunicação instantânea, que faz toda a diferença para quem vive isolado na mata.
A munição tecnológica que reforçou os Ashaninkas veio de uma ONG, o Comitê para Democratização da Informática, que já ajudou a levar a internet para quatro aldeias da Amazônia.
“Os Ashaninkas descobriram uma forma de usar a internet como uma ferramenta de libertação. Essa prática deve ser adaptada a realidades distintas de comunidades diferentes, mas ela é a mesma, ela faz com que essas pessoas possam efetivamente se inserir num novo mundo”, disse Rodrigo Baggio, diretor-executivo do CDI.
O computador que agora ajuda os índios a cuidar da fronteira é o mesmo que está chegando nas casas de muitos brasileiros.
De 2000 a 2007, a quantidade de gente com acesso à Internet no Brasil saltou de cinco milhões para 39 milhões de pessoas. Foi o segundo maior crescimento registrado no planeta.
Mesmo assim, na reportagem desta terça, você vai descobrir que tem brasileiro que não conseguiu um lugarzinho nessa grande janela aberta para o mundo.
Um comentário:
Olá amigos, vocês têm cópia em vídeo dessa reportagem?
sabem se alguém postou em outro lugar??
Hermington Franco
Ministério Público Federal
hermington@prac.mpf.gov.br
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