por Grupo de Trabalho Transfronteiriço*
Do dia 30 de junho a 03 de julho foi realizado o 11º Encontro do Grupo de Trabalho para a Proteção Transfronteiriça do Alto Juruá e Serra do Divisor, realizado no Centro de Saberes da Floresta Yorenka Ãtame, em Marechal Thaumaturgo. O evento debateu os projetos de infra-estrutura realizados e planejados na fronteira do Acre com Ucayali, no Peru, e os impactos causados por essas atividades aos moradores da região.
Lideranças dos povos Huni Kuĩ (Kaxinawá), Ashaninka, Kuntanawa, Jaminawa-Arara, Apolima-Arara e Manchineri compareceram ao evento, ao lado de moradores do Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD), da Reserva Extrativista do Alto Juruá e das comunidades do entorno. Lideranças dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Marechal Thaumaturgo e de Rodrigues Alves e representantes das organizações de professores, de agentes agroflorestais indígenas e do WWF-Brasil também participaram.
O encontro teve como propostas atualizar as informações aos participantes sobre as grandes ações em curso na fronteira, como a construção de estradas, prospecção e exploração de petróleo e gás natural, concessão de lotes de madeira, entre outras; avaliar os compromissos firmados pelas organizações em reuniões passadas; e dar continuidade à articulação entre o movimento social na fronteira.
O encontro foi realizado pela Comissão Pró-Índio do Acre (CPI/AC) e SOS Amazônia, em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Marechal Thaumaturgo e com o apoio da Rainforest Foundation Noruega (RFN), através do projeto Fortalecimento dos Povos Indígenas e Conservação da Biodiversidade na Fronteira Brasil-Peru.
Assuntos discutidos
No primeiro dia, foi feita uma apresentação atualizando a situação das atividades legais e ilegais que ameaçam os moradores da região. No dia seguinte, foi a vez das lideranças indígenas, representantes dos sindicatos e moradores do entorno relatarem os impactos causados por essas ações nas comunidades.
“A estrada que está sendo planejada para ligar Puerto Esperanza (próxima a Santa Rosa do Purus) a Iñapari (vizinha de Assis Brasil) pode cortar uma área que já está sendo afetada pelos madeireiros e traficantes de drogas. Mais de uma vez já prendemos traficantes em nossa terra”, denuncia Lucas Manchineri, morador da Terra Indígena Mamoadate, no município de Assis Brasil.
João da Costa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marechal Thaumaturgo, acha que deveria haver mais fiscalização do lado brasileiro. “Têm pessoas caminhando constantemente pela fronteira e eu não sei o que trazem de bom ou de ruim para oferecer do Brasil pra lá e do Peru pra cá. Eu, que fui criado na mata, estou muito preocupado, porque hoje nós vivemos uma outra realidade”, conta.
No dia 02, os participantes avaliaram os compromissos assumidos pelo grupo de trabalho nos últimos encontros e discutiram perspectivas para a continuidade das atividades do grupo. No último dia, foi lido e debatido o documento final deste 11º encontro, contendo as informações detalhadas do que foi discutido nesses quatro dias de conversas. Também foi lançado o primeiro número do informativo “Dinâmicas Transfronteiriças Brasil-Peru”, com 16 páginas de informações sobre o que acontece na fronteira e os impactos que as comunidades locais sofrem.
Mudanças climáticas
Neste encontro, o Grupo de Trabalho Transfronteiriço incluiu na sua pauta de discussões, pela primeira vez, as mudanças climáticas globais e como as populações da região do Vale do Juruá sentem e se adaptam a essas transformações. Procurava-se abordar este tema fazendo uma relação com os processos fronteiriços tratados no evento.
Benki Pianko, outra liderança Ashaninka, contou o que vem acontecendo na sua aldeia. “Esse ano está chovendo até agora. O rio muito cheio é coisa que não acontece. Foi tanta chuva que as roças alagaram e as raízes morreram porque não tem sol para secar a terra”. Aproveitando a ocasião, denunciou que “há quatro anos morreu gente com a intoxicação de fumaça das queimadas e não foi falado pra ninguém. Disseram ser gripe e dor de cabeça. Mas nós sabemos que foram as queimadas”.
Índios Isolados
Um dos pontos referentes à fronteira Brasil-Peru é em relação aos índios isolados habitantes de territórios já demarcados para os povos do Acre, como os Huni Kuĩ, Ashaninka e Manchineri. No 11º Encontro, foi reiterada a questão da convivência pacífica com os isolados, tendo em vista que a aproximação desses índios, ocasionada pelas atividades realizadas na fronteira, estão gerando conflitos com as comunidades locais, como acontece na Terra Indígena (TI) Kaxinawá do Rio Humaitá.
“Não sofremos tráfico de drogas e nem extração de madeira. O impacto maior são os roubos dos parentes isolados”, afirmou uma das lideranças da TI, Antonio Tuin Kaxinawá. Ele vem participando das discussões sobre este assunto há algum tempo e sua terra foi a primeira a receber a oficina de informação e sensibilização sobre os isolados, em maio deste ano.
* Leia o relatório completo do 11º Encontro do Grupo de Trabalho para a Proteção Transfronteiriça do Alto Juruá e Serra do Divisor, AQUI
** Leia o “Informativo Dinâmicas Transfronteiriças Brasil-Peru”, AQUI
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