Assessor dos Povos Indígenas ressaltou importância da organização dos povos e comunidades para receberem os investimentos públicos (Foto: Onofre Brito/Secom)
3º Fórum dos Povos Indígenas do Acre
por Flaviano Schneider, Agência de Notícias do Acre, 20/04/2010
O 3º Fórum dos Povos Indígenas do Acre, na Terra Indígena Puyanawa, município Mâncio Lima começou nesta segunda-feira, 19 de abril, dia que se comemora o Dia do Índio no Brasil. E durante os próximos quatro dias, cerca de 100 indígenas, representando 33 Terras Indígenas, pertencentes às 15 etnias existentes no Estado, vão relatar experiências e a situação vivida por suas aldeias. Nos dois primeiros dias, além da apresentação do histórico e situação atual do movimento indígena, vai acontecer o ‘diálogo das aldeias' em que as diversas aldeias se apresentarão e também as organizações indígenas como Opirj, Opitar,Opire, Fephac,Opiac, Sitoakore, etc. No dia 21 de abril serão apresentados os fundamentos da política indigenista do Governo do Estado e o plano de valorização dos povos indígenas.
No último dia, grupos temáticos estudarão e fornecerão subsídios para as políticas públicas do governo. Nesse dia também vai acontecer assinaturas de convênios com associações indígenas para implementação do ProAcre. O secretário dos povos indígenas, Francisco Pinhanta, anunciou a presença do governador Binho Marques no último dia do encontro, quando será feita a premiação de diversos ganhadores do I Prêmio de Culturas Indígenas e o lançamento da revista: ‘Povos Indígenas do Acre'. As noites são dedicadas a apresentação de danças e sessões de pajelança, com a bebida sagrada Ayahuasca.
Para o diretor-presidente do Instituto Dom Moacir, Irailton Lima, o grande debate é o aprofundamento da compreensão do que são os planos de gestão dos territórios: "Esperamos que daqui saiam novas demandas para o poder público".
Demandas indígenas
Na abertura do encontro o povo Ashaninka, que habita no Alto Envira, apresentou demandas decorrentes de seu isolamento. O secretário Francisco explicou que em alguns lugares é difícil o governo chegar e que é necessária a organização das comunidades: "A gente está fazendo um grande esforço nos últimos anos para que as comunidades comecem a assumir parte desses serviços para que os benefícios cheguem às comunidades. Queremos chegar de maneira segura e isto só acontecerá se as comunidades estiverem organizadas. As cobranças aparecem, mas a gente vê isso como um processo de construção. Já houve avanços".
O presidente da Organização dos Povos Indígenas do Vale do Juruá (OPIRJ), Osmildo Kuntanawa, ponderou que como os governos federal, estadual e municipal trabalham dentro da lei e só podem destinar recursos para quem estiver organizado, resta às comunidades indígenas se organizarem. "Para fazer parte do programa do governo as lideranças têm que saber trabalhar em suas terras. Para isso precisamos pessoas que nos levem as informações, que apliquem cursos dentro das terras indígenas para formação de lideranças. A gente (os Kuntanawa) ainda não tem terra demarcada mas estamos recebendo apoio do governo. Estamos cadastrados na saúde e temos professores na escola diferenciada".
Dia do Índio
O 3º Fórum é realizado na Escola Estadual Indígena Ixubai Rabuí Puyanawa e cineliy com diversas apresentações de danças e brincadeiras típicas, lembrando o quanto está viva a tradição indígena Puyanawa. Muita emoção por parte do cacique Mário Puyanawa: "Estou muito emocionado. Os parentes vêm de tão longe para participar desse encontro em nossa aldeia e queremos que todos se sintam bem. Vamos ouvir e saber das dificuldades de cada um e o governo está aí para ouvir também". O cacique Puyanawa se diz muito satisfeito com o movimento indígena hoje. Contou que no início da mobilização os índios não sabiam se expressar. "Hoje vejo índios de todas as etnias falando muito bem, falando o que sente e explicando sua situação para os outros parentes; é uma troca de experiências e todos percebem quem é organizado e este serve de exemplo para os outros".
Na noite deste 19 de abril, aconteceu também uma pajelança com Ayahuasca e rapé. O cacique Yawanawa e pajé, Biraci Brasil, disse que o encontro foi excelente e lembrou os anos 1980. Foram entoados cânticos por cinco diferentes etnias e todos se harmonizaram. Para Biraci, o brilho e a harmonia da pajelança indicaram que os povos indígenas acrianos estão partindo agora para uma nova fase de harmonia e desenvolvimento espiritual.
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