11/07/2016

A ALIANÇA VIVE

De um lado, os indígenas do Povo Ashaninka da comunidade Apiwtxa do Amônia. Do mesmo lado, os extrativistas da Resex Alto Juruá. Todos juntos em defesa de uma gestão sustentável e solidária dos territórios que compõem o mosaico de áreas protegidas da região do Juruá.

Assim se configura mais um episódio da Aliança do Povos da Floresta, idealizada por Chico Mendes em meados dos anos oitenta para unificar as principais bandeiras dos movimentos sociais da Amazônia em sua luta pelo desenvolvimento sustentável da região.

No início do mês de maio, foi realizado, no Centro Yorenka Ãtame, o curso para monitores ambientais da Reserva Extrativista Alto Juruá, do qual participaram mais de quarenta representantes de trinta e quatro comunidades. Tive a honra de, junto com o professor Mauro Almeida e a gestora da Reserva Extrativista Riozinho da Liberdade, Júlia Vilela, ministrar algumas palestras no evento, que integra o conjunto de ações do projeto Alto Juruá.
Ficou evidente que naquele momento, não havia alunos, nem professores. Todas e todos ensinávamos e aprendíamos, juntos, ao mesmo tempo. Afinal, os extrativistas têm uma sabedoria ampla acerca do funcionamento de tudo o que vive em seu território. Além disso, são  protagonistas de sua própria história. Conhecem bem, e a fundo, cada detalhe do processo que há por trás da constituição de sua Reserva. Foram eles os responsáveis pelo alcance dessa conquista. Nada foi fácil. E todas as conquistas seguem exigindo disposição para a luta; o que eles têm de sobra.

O Projeto Alto Juruá, de autoria dos Ashaninka da Apiwtxa, é o primeiro do Fundo Amazônia aprovado diretamente em favor de uma associação indígena no Brasil, iniciado em abril de 2015 pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. Com duração de três anos, atua no assessoramento, capacitação e implantação de sistemas agroflorestais; apoio à gestão territorial e ambiental às comunidades indígenas e tradicionais do Alto Juruá; e desenvolvimento institucional das organizações comunitárias.

Um dos grandes diferenciais do projeto é o fato de que as ações não foram pensadas para beneficiar apenas as populações indígenas, mas também as comunidades da Resex Alto Juruá, vizinha à Terra Indígena. Isso revela a manifesta sabedoria dos povos tradicionais que, não só compreendem que a conservação e o respeito à floresta dependem da união das forças de todos na região, mas exercem a solidariedade entre vizinhos irmanados em direitos e deveres em relação à Mãe Terra.

As comunidades da Resex andam preocupadas com o futuro das comunidades e do território. Dificuldades na geração de renda por meio das atividades produtivas tradicionais, chegaram a desanimar. Mas, valentes que são, impulsionados pelo apoio dos vizinhos Ashaninka, os membros das comunidades da Resex reagiram. Após a parceria estabelecida por meio do Projeto Alto Juruá, os extrativistas avançaram rapidamente no plantio de sistemas agroflorestais (SAFs). A grande maioria das comunidades envolvidas já iniciou seus plantios, preparando a terra, construindo viveiros e plantando mudas. A ideia do Projeto é consolidar uma rede de proteção ambiental dos territórios e de cooperação em atividades voltadas à geração de renda.

Essa imagem foi a mais importante que vi por lá ao participar de um capítulo dessa história que os Povos da Floresta estão escrevendo. Eu vi gente sábia, íntegra, competente e batalhadora, trabalhando duro para garantir um futuro para si e para os seus com respeito profundo ao meio ambiente. Para garantir um futuro para a floresta, tirando dela o seu sustento. A tradicionalidade materializada nas propostas, nas falas, nos atos. Vi todo mundo cheio de vontade de aprender e de ensinar. Disponibilidade de estender e dar as mãos; e de construir a partir de muitas cabeças e mãos, essa tal gestão sustentável. Vi a Aliança em movimento. De onde estiver, Chico deve estar sorrindo também, ao constatar que a Aliança segue bela e forte!

Por Maria Augusta B. Assirati


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