por Cédric Gouverneur*
Benki, líder indígena Ashaninka no Brasil, (na foto entre Danielle Mitterrand, presidente da Fundação France Libertés e Jean-Vincent Place, presidente da Natureparif), em Paris, por ocasião do 26o Festival Internacional de Cinema de Meio Ambiente (Fife).
VSD reuniu-se com o pioneiro da proteção da Amazônia, que denuncia: há no seu território uma empresa certificada com padrão FSC que corta a sua floresta. E a indústria do petróleo ameaça seus rios.
VSD: Você esteve na Conferência do Rio em 1992, que já alertou sobre os perigos do desmatamento. Como você acredita que mudou a situação?
Benki Ashaninka: Há melhorias. Os estados brasileiros têm criado áreas protegidas, como é a minha terra no Estado do Acre (Observação: na fronteira com o Peru). Os nativos, os Estados e os departamentos interagem. É uma alternativa real. Mas existem também aspectos negativos: apesar dos nossos esforços, o desmatamento continua. O governo não é onipotente para enfrentar a ganância de alguns.
VSD: Na fronteira entre o Brasil e o Peru, sua comunidade, Ashaninka, está se mobilizando contra a exploração ilegal de madeira.
BA: Uma empresa peruana, a Forestao Venao, tem feito cortes de madeira em nosso território. E esta empresa é certificada como realizando "desenvolvimento sustentável" pela FSC (Forest Stewardship Council, U. S. ONG)! Nós sabemos que o Governo brasileiro está atento a este escândalo, mas nada é feito no Peru.
VSD: Conte-nos "agentes agroflorestais" entre vocês...
BA: Os nossos 116 agentes são Povos da Amazônia e aprendem como gerir os seus recursos, com alternativas para o desflorestamento: a criação de sistemas agroflorestais (Nota do editor: árvores de frutos plantadas na floresta para obter receitas) e o artesanato. Nós criamos uma escola e trabalhamos com a formação para educar a população, índios e brancos, a respeitar a floresta, para demonstrar que é possível um outro desenvolvimento, um desenvolvimento que respeite as nossas raízes. Acompanhamos de perto o território para observar os movimentos dos madeireiros ilegais. E nós reflorestamos áreas desmatadas: 12 tribos têm 566 000 árvores plantadas em 516 hectares. Isso pode servir como um exemplo para outros Estados brasileiros.
VSD: A água é outra das suas preocupações...
BA: Do outro lado da fronteira, no lado peruano, três concessões de petróleo vão afetar nosso território. Onde é que está o petróleo é a fonte dos nossos rios! O desmatamento teve grande participação na diminuição dos nossos rios, e os peixes estão ameaçados... O presidente peruano Alan Garcia não atende nossas reivindicações. Se sem a floresta, nós somos nada, sem a água, não podemos.
¤ Benki Ashaninka foi convidado para um debate sobre a floresta, sexta-feira, 21 de novembro, em Paris com a associação Natureparif.
¤ Segundo o Greenpeace, 23 000 km2 de floresta são cortados por ano no Brasil. O equivalente a metade da Suíça. Ou 6 campos de futebol por minuto.
¤ Por denunciar a incapacidade do presidente Lula para se opor aos plantadores de soja e de cana-de-açúcar (usada para o agro-combustível), a ministra do Meio Ambiente Marina Silva foi demitida em maio.
*Cédric Gouverneur, VSD.Fr, 21/11/2008
Saiba mais sobre o 26o Festival Internacional de Cinema de Meio Ambiente (Fife), AQUI
Um comentário:
Carta para Moises e Fransisco,
Trabalhei entre 93-95 no Alto Juruá e conheço as TI Breu e Amonia. Parabens pelos grandes trabalhos que voces levaram para frente. Ganhei o CD Homãpani Ashaninca. Tenho a curiosidade se la tem a cantoria tambem com Kiori e seu filho Estali ?? Tenho anda gravações superinteressantes de voces. Tem interesse ? Um grande abraço Frans leeuwlara@terra.com.br
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