por Sérgio Abranches*
O povo da floresta sabe do desafio global do século XXI. Mas, raramente, nos lembramos de perguntar o que eles estão vendo.
Nós estávamos combinando uma série de pequenas apresentações para os “povos da florestas” – seringueiros, indígenas, pequenos agricultores, ribeirinhos – sobre mudança climática, a floresta amazônica e REDD – redução de emissões por desmatamento e degradação. Estávamos na reunião do Fórum Amazônia Sustentável – Os Povos da Floresta e REDD, em Rio Branco, Acre. A idéia central era que seríamos simples e faríamos uma defesa forte da conexão entre uma política ambiciosa para a mudança climática global, a proteção da floresta e o pagamento de serviços ambientais e desmatamento evitado.
Foto Sérgio Abranches
Eles eram mais de 100, de várias partes da floresta, a maioria, mas nem todos, do território do estado do Acre. Todos estavam muito interessados em como os gases de efeito estufa aquecem o Planeta e como o aquecimento provoca a mudança climática. Estavam todos preocupados com a relação entre a floresta e tudo isso. Eles sabem que o desmatamento é ruim para todos, que as queimadas são uma praga para os animais silvestres e um risco para suas comunidades.
Quando eu mencionei os rios voadores, que os cientistas estão estudando, a imensa massa de vapor de água que paira sobre a copa das árvores, às vezes carregando um volume de água maior do que os próprios rios, seus olhos brilharam e balançaram as cabeças, em orgulhosa concordância. Os rios voam. Eles sabiam tudo.
Quando o debate abriu para o plenário, todos tinham algo a dizer. Um velho ribeirinho, Antônio, nos disse que os rios e igarapés estão secando. Falou sobre desmatamento, degradação e erosão e como reduzem a qualidade de vida da população ribeirinha.
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Um seringueiro, Luiz, nos falou sobre a falta de lei e de direitos e deveres de cidadania, onde se experimenta a total ausência do estado.
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Benki Piyãko, líder do povo ashaninka, disse que eles “sabem que as emissões de gases de efeito estufa não são responsabilidade deles, mas resultam da ação humana de outros”. Eles estão conscientes, ele me disse, de que esse é um problema que os afeta de “muitas maneiras”. Em uma entrevista para o jornalista Altino Machado, durante o evento, ele falou sobre reflorestamento, criação de animais silvestres como um meio de alimentar seu povo, reduzir emissões e substituir a pecuária.
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Ele disse que “o grande reflorestamento, com espécies madeireiras, frutíferas, consorciando manejo e criação de animais silvestres, também vai se contrapor ao desmatamento para criação de bovino. Vamos sobreviver e manejar equilibradamente os recursos naturais voltado ao manejo de lagos, rios, criação de viveiros para produção de algumas espécies que hoje estão correndo risco de extinção. Nós podemos viver do que a natureza tem”.
Nós, do nosso lado, temos muito que aprender com eles. Eles têm os casos, eles sabem o que se passa na floresta. Eles sabem que a mudança climática já está acontecendo, o que a degradação faz com o resto da floresta e com seu povo. Uma conexão respeitosa entre as duas sociedades pode ser boa para ambos. Eles também têm muito a aprender conosco e há aqueles que já não são protetores da floresta e que têm que ser convencidos a voltarem a ser. Sempre respeitando a integridade de suas culturas e seus modos.
Eu fiquei particularmente feliz em ver Iideranças indígenas portarem orgulhosamente seus cocares, um deles, trocou, no meio da reunião a fita pelo cocar, vindo discutir REDD como um mecanismo que eles entendem e podem usar para proteger a floresta, seus modos culturais e combater a mudança climática global. Será preciso muita liderança local, para dar certo e se estabelecer a governança necessária. Governança com cidadãos de duas culturas.
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* Sérgio Abranches, Ecopolítica, 18/o8/2009
Um comentário:
Muito bom!
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