Amigos,
Saímos da nossa aldeia dia 3 e retornamos dia 6 de outubro de 2007, com uma equipe de 17 pessoas para novamente fazer a fiscalização de nosso território.
Nessa ida, encontramos vários caminhos de caçadas feitos por pessoas da Comunidade Sawawo (Peru) e uma picada de 2 metros de largura feitas pela empresa peruana Forestal Venao para explorar madeira ilegalmente.
Essa picada que fica no Rio Arara já tem aproximadamente um ano, mas encontramos caminhos mais recentes onde estão marcando árvores de mogno.
Nessa ida, eu peguei algumas coordenadas de GPS e pedi que fossem verificadas, para ter idéia de onde estão esses pontos na nossa terra.
Saímos da Comunidade Apiwtxa subindo o Rio Amônia e entramos na mata sobre a coordenada:
- capoeira do Samuel “S 09º 22.691, W 072º 58.637”
- caminho de caçada da Comunidade Sawawo “S 09º 23.900, W 072º 56.570”
- primeira travessia, primeiro igarapé “S 09º 24.255, W 072º 55.985”
- nosso acampamento de dormida “S 09º 24.859, W 072º 55.132”
- primeiro caminho onde eles marcaram a madeira para corte “S 09º 24.985, W 072º 54.305”
- picada feita para entrada das máquinas “S 09º 25.654, W 72º 53.496” [Peru]
Essas coordenadas estão sendo processadas, analisadas e colocadas em mapa. Mas nós sabemos que estão dentro ou muito próximas da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, Brasil, Território brasileiro, para quem quiser ver, para quem tiver boa vontade e quiser ver com os próprios olhos o que não dá para esconder, tamanho o estrago já feito.
Nós precisávamos fazer mais esta viagem, para ver novamente o que os peruanos estão fazendo na nossa terra, porque precisávamos responder ao relatório da auditoria da SmartWood Rainforest Alliance que, para se proteger por ter concedido o padrão de certificação FSC à empresa madeireira peruana Forestal Venao, tem noticiado (aqui) que sua auditoria não encontrou nada de irregular nos desmatamento ilegais e criminosos que a Forestal Venao pratica com o apoio e a certificação da SmartWood Rainforest Alliance em nossa terra e no Território brasileiro.
Mas nós, povo Ashaninka do rio Amônia, não vamos nos cansar de denunciar e lutar por nossos direitos, o direito do nosso povo de viver na floresta e o direito da floresta ser mantida de pé.
Desde o ano de 1999 a gente vem fazendo as denúncias, e desde que as Instituições brasileiras assumiram a fiscalização na fronteira, desmontaram vários acampamentos de madeireiros peruanos na nossa área, e registraram em relatórios as coordenadas em GPS dos acampamentos peruanos desmontados e as áreas de floresta desmatada. E estes dados estão à disposição no IBAMA, para quem quiser investigar.
Mas a SmartWood Rainforest Alliance saber disso de nada adianta, eles mantém a certificação e a Forestal Venao está rindo muito agora. Conseguiu convencer alguns índios peruanos, o Inrena e a própria SmartWood que derrubar a floresta e invadir o Território brasileiro é um grande negócio, que eles chamam de “manejo florestal sustentável”, mas não passa de uma grande fraude da Forestal Venao certificada pela SmartWood Rainforest Alliance que está acabando com a nossa floresta.
Isaac Piyãko, Líder ashaninka da aldeia Apiwtxa do rio Amônia.
Um comentário:
é muito cômoda a posição do governo brasileiro de colocar indígenas e outros extrativistas, que estão em processo de luta para estruturar sua própria sustentabilidade, para tomar conta de suas fronteiras;
assim não fica numa posição incômoda com seus parceiros de desenvolvimento;
aqui no acre o sustentável é coisa pra turista, pois o que vale é o desenvolvimentismo do pac, do iirsa, do bid etc;
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