Atividade fez parte da programação do primeiro Encontro Indígena do Acre realizado em terra indígena
por Viviane Teixeira*
Foto Gleilson Miranda/Secom
Lideranças indígenas realizaram debate no espaço Aldeia Global
Compartilhar experiências e modos de vida, tendo como foco a manutenção dos conhecimentos e das práticas tradicionais. Este foi o propósito de uma das atividades desenvolvidas durante a realização do quinto Encontro de Culturas Indígenas do Acre, o Papo de Índio. Lideranças e comunidades indígenas das etnias acreanas unidas para o debate realizado na Aldeia Global. No primeiro dia da atividade a realidade de cada povo foi apresentada por seus líderes, enfatizando os principais problemas, as esperanças e alternativas para o futuro. “Este é um trabalho de lembrar o passado e de recuperação da cultura das comunidades”, destacou Antônio Alves. Ele falou ainda que esta preocupação faz parte do cotidiano dos indígenas. “Sabemos que muitas comunidades já estão guardando suas tradições, sementes e desenhos. Estas coisas precisam estar reunidas e bem cuidadas para que não se percam com o tempo”.
Durantes os três encontros com esta proposta as comunidades indígenas compartilharam o conhecimento tradicional, falaram das dificuldades, dos resultados positivos e dos desafios de cada etnia. Assuntos como a participação e a parceria do poder público, saúde, educação, resgate de raízes, tradição e desafios para o futuro fizeram parte da pauta do Papo de Índio. “Este é um exercício de projetar o futuro baseados no que já se sabe”, disse Antônio Alves.
Para o assessor para Assuntos Indígenas, Francisco Pianko, a proposição de políticas públicas é mais fácil e eficiente quando o processo de troca de informações acontece. Segundo ele o encontro possibilita a discussão sobre o que já foi feito, e a apresentação do que ainda é preciso para melhorar a qualidade de vida das comunidades tradicionais. “Neste processo é importante a participação de todos, expondo seus problemas, dando idéias. Ficamos muito satisfeitos com os resultados. As orientações das comunidades vão ao encontro do que está sendo pensado e executado pelo Governo do Estado”, enfatizou Francisco Pianko.
Para o líder do povo Jaminawa Arara do Bajé, Rosildo da Silva, um das grandes necessidades de seu povo é a qualificação educacional. “Precisamos trabalhar em conjunto para garantir a educação dos nosso parentes”, disse ele. A terra indígena do povo Jaminawa está localizada em Marechal Thaumaturgo, são 190 indígenas divididos em quatro grupos, tendo como forma de subsistência o artesanato, a cultura de banana, macaxeira e cana. Recentemente o Governo do Estado em parceria com a comunidade implantou duas casas de farinha na aldeia como forma de oferecer mais uma alternativa de renda.
Outra experiência apresentada durante o Papo de Índio foi a organização do povo Ashaninka, que moram na fronteira do Brasil com o Peru na área do rio Amônia. A comunidade composta por 430 indígenas tem como principal fonte de renda o artesanato tradicional, que utilizam matérias-primas como as sementes e o reaproveitamento de árvores, além da tecelagem. “Ainda que nossa dependência do mercado externo seja pouca. Produzimos quase tudo que necessitamos”, ressaltou Isaac Pianko. Os Ashaninka desenvolvem um trabalho importante da área de reflostamento e de repoamento de quelônios. “Nossa comunidade planeja as ações e as formas adequadas de interagir com o meio ambiente, garantindo os recursos que precisamos e devolvendo para natureza o que deve ser devolvido”.
A atividade Papo de Índio foi um dos momentos mais marcantes e de grande participação dos representantes das etnias que estiverem presentes no quinto Encontro de Culturas Indígenas do Acre. O debate foi mediado por Suely Melo, chefe do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural, Edgar de Deus, chefe do Departamento Estadual da Diversidade Sócio-Ambiental, Toinho Alves, Assessor Especial do Governo do Estado e Dedê Maia, responsável pelo setor de cultura indígena do Patrimônio Histórico.
“Um evento como esse marca o reconhecimento pelas lutas dos povos indígenas”, concluiu Biraci Brasil, liderança do povo Yawanawa.
* Viviane Teixeira, Agência de Notícias do Acre, 16/10/2008
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