Fantástico - Edição de 26.09.2004
Este é um Brasil que poucos brasileiros conhecem. Nossa equipe chegou a Marechal Thaumaturgo, cidade do Acre perto da fronteira com o Peru. Desse ponto para a aldeia dos índios ashaninkas, só de barco.
A viagem é longa e cansativa. Nesta época do ano, o nível das águas do Rio Amônia está muito baixo. De vez em quando os barcos encalham. Nas margens, os sinais da presença humana vão ficando cada vez mais raros.
Depois de quase cinco horas, nossa equipe chegou.
À primeira vista, parecem peruanos, até nas roupas vistosas, feitas de algodão. O enfeite na cabeça é fabricado com folhas de palmeira.
A grande maioria dos ashaninkas vive no Peru, são 55 mil índios. É uma das maiores populações indígenas da América do Sul. No Brasil vivem apenas mil ashaninkas, aproximadamente.
A maior aldeia do grupo em território brasileiro é a apiútia, com cerca de 400 índios. Fica na fronteira com o Peru, nas margens do Rio Amônia, estado do Acre.
Ao longo dos séculos, os ashaninkas têm conseguido preservar sua identidade cultural. Os ashaninkas são apontados por alguns pesquisadores como descendentes dos incas, mas eles próprios não confirmam essa teoria.
Logo ao chegar, a equipe encontrou uma aula ao ar livre. Elas acontecem diariamente. É quando os mais velhos contam para os mais novos as histórias da tribo.
Os ashaninkas são conhecidos por preservar a floresta – é dela que tiram o sustento. Desde 1992, quando a reserva foi demarcada, eles vêm reflorestando áreas devastadas pelos brancos, e repovoando a mata com animais ameaçados de extinção.
“No caso da espécie do tracajá, que é um alimento preferido do povo ashaninka, tava quase em extinção. Nós começamos a trabalhar no sentido de ajudar para que a gente pudesse trazer de volta e a gente tê-lo novamente e fazer esse equilíbrio”, explica Francisco Pianko, chefe ashaninka.
Os ashaninkas estão enfrentando um inimigo que destrói justamente o que eles mais prezam: a Floresta Amazônica. A tranqüilidade da aldeia tem sido quebrada com as invasões de madeireiros peruanos.
Os madeireiros entram no território brasileiro através de rios e igarapés, na fronteira de Brasil e Peru. Com motosserras, eles abrem trilhas na mata e levam a madeira roubada em carroças e barcos.
Acompanhados pelo chefe Francisco Pianko e dois policiais federais nossa equipe fez um sobrevôo na região de fronteira. Segundo a denúncia dos índios, os madeireiros peruanos avançam cada vez mais no território brasileiro, retirando madeira protegida por lei. Os pilotos têm as coordenadas e mostraram as áreas devastadas da terra indígena pelos invasores.
Mesmo de avião, é difícil localizar as estradas abertas pelos invasores e as áreas desmatadas. É que os madeireiros fazem o chamado “corte seletivo”: levam as árvores de madeiras nobres e deixam outras, cujas copas escondem a devastação.
Em um sobrevôo pelo local, já dá para ver as estradas quase totalmente escondidas pela mata. Mais adiante, uma grande área desmatada, e logo depois, um acampamento de madeireiros peruanos, com muitas árvores derrubadas.
A mobilização do povo ashaninka contra a destruição da Amazônia brasileira está dando resultado. Em 2002, o procurador da República no Acre entrou com uma ação contra a União. O objetivo era obrigar o governo federal a impedir a invasão dos madeireiros peruanos e a devastação da reserva ashaninka. A ação foi vitoriosa.
“O juiz concedeu tutela antecipada no sentido de determinar de imediato que a União, através de seus órgãos tais como Funai, Ibama, Polícia Federal e o próprio Exército instalassem lá órgãos de representação. Com o apoio do estado, está sendo construído um pelotão de fronteira, e nas próprias instalações deste pelotão vão ficar abrigados outros órgãos tais como a própria Policia Federal, Ibama e Funai”, explica Marcus Vinicius Macedo, procurador da República.
Os problemas na fronteira levaram Brasil e Peru a criar um grupo de ação conjunta, que já organizou vistorias na área invadida pelos madeireiros. Apesar disso, nenhum dos invasores foi preso até agora.
“Nós queremos inibir eventuais padrões de ocupação territorial de uma forma ilegal, que agridem de uma forma irresponsável o nosso patrimônio, as nossas florestas e as nossas águas. E que o país possa, de uma forma democrática, ordenar de uma forma correta e sustentável esse padrão de ocupação”, garante o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto.
Ao longo dos séculos, os ashaninkas têm resistido a diversos tipos de invasões: colonizadores, traficantes, madeireiros, caçadores. Em uma área esquecida da fronteira, eles têm consciência de que não estão defendendo apenas os interesses de sua tribo, mas do próprio país onde vivem.
“A gente fica bastante preocupado porque [quer] saber até onde isso vai estar acontecendo com a comunidade. Porque depois que morre, depois que a floresta está destruída, recuperar é muito mais caro do que você trabalhar enquanto ela está de pé”, acredita Francisco Pianko.
Saiba mais aqui.
Este é um Brasil que poucos brasileiros conhecem. Nossa equipe chegou a Marechal Thaumaturgo, cidade do Acre perto da fronteira com o Peru. Desse ponto para a aldeia dos índios ashaninkas, só de barco.
A viagem é longa e cansativa. Nesta época do ano, o nível das águas do Rio Amônia está muito baixo. De vez em quando os barcos encalham. Nas margens, os sinais da presença humana vão ficando cada vez mais raros.
Depois de quase cinco horas, nossa equipe chegou.
À primeira vista, parecem peruanos, até nas roupas vistosas, feitas de algodão. O enfeite na cabeça é fabricado com folhas de palmeira.
A grande maioria dos ashaninkas vive no Peru, são 55 mil índios. É uma das maiores populações indígenas da América do Sul. No Brasil vivem apenas mil ashaninkas, aproximadamente.
A maior aldeia do grupo em território brasileiro é a apiútia, com cerca de 400 índios. Fica na fronteira com o Peru, nas margens do Rio Amônia, estado do Acre.
Ao longo dos séculos, os ashaninkas têm conseguido preservar sua identidade cultural. Os ashaninkas são apontados por alguns pesquisadores como descendentes dos incas, mas eles próprios não confirmam essa teoria.
Logo ao chegar, a equipe encontrou uma aula ao ar livre. Elas acontecem diariamente. É quando os mais velhos contam para os mais novos as histórias da tribo.
Os ashaninkas são conhecidos por preservar a floresta – é dela que tiram o sustento. Desde 1992, quando a reserva foi demarcada, eles vêm reflorestando áreas devastadas pelos brancos, e repovoando a mata com animais ameaçados de extinção.
“No caso da espécie do tracajá, que é um alimento preferido do povo ashaninka, tava quase em extinção. Nós começamos a trabalhar no sentido de ajudar para que a gente pudesse trazer de volta e a gente tê-lo novamente e fazer esse equilíbrio”, explica Francisco Pianko, chefe ashaninka.
Os ashaninkas estão enfrentando um inimigo que destrói justamente o que eles mais prezam: a Floresta Amazônica. A tranqüilidade da aldeia tem sido quebrada com as invasões de madeireiros peruanos.
Os madeireiros entram no território brasileiro através de rios e igarapés, na fronteira de Brasil e Peru. Com motosserras, eles abrem trilhas na mata e levam a madeira roubada em carroças e barcos.
Acompanhados pelo chefe Francisco Pianko e dois policiais federais nossa equipe fez um sobrevôo na região de fronteira. Segundo a denúncia dos índios, os madeireiros peruanos avançam cada vez mais no território brasileiro, retirando madeira protegida por lei. Os pilotos têm as coordenadas e mostraram as áreas devastadas da terra indígena pelos invasores.
Mesmo de avião, é difícil localizar as estradas abertas pelos invasores e as áreas desmatadas. É que os madeireiros fazem o chamado “corte seletivo”: levam as árvores de madeiras nobres e deixam outras, cujas copas escondem a devastação.
Em um sobrevôo pelo local, já dá para ver as estradas quase totalmente escondidas pela mata. Mais adiante, uma grande área desmatada, e logo depois, um acampamento de madeireiros peruanos, com muitas árvores derrubadas.
A mobilização do povo ashaninka contra a destruição da Amazônia brasileira está dando resultado. Em 2002, o procurador da República no Acre entrou com uma ação contra a União. O objetivo era obrigar o governo federal a impedir a invasão dos madeireiros peruanos e a devastação da reserva ashaninka. A ação foi vitoriosa.
“O juiz concedeu tutela antecipada no sentido de determinar de imediato que a União, através de seus órgãos tais como Funai, Ibama, Polícia Federal e o próprio Exército instalassem lá órgãos de representação. Com o apoio do estado, está sendo construído um pelotão de fronteira, e nas próprias instalações deste pelotão vão ficar abrigados outros órgãos tais como a própria Policia Federal, Ibama e Funai”, explica Marcus Vinicius Macedo, procurador da República.
Os problemas na fronteira levaram Brasil e Peru a criar um grupo de ação conjunta, que já organizou vistorias na área invadida pelos madeireiros. Apesar disso, nenhum dos invasores foi preso até agora.
“Nós queremos inibir eventuais padrões de ocupação territorial de uma forma ilegal, que agridem de uma forma irresponsável o nosso patrimônio, as nossas florestas e as nossas águas. E que o país possa, de uma forma democrática, ordenar de uma forma correta e sustentável esse padrão de ocupação”, garante o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto.
Ao longo dos séculos, os ashaninkas têm resistido a diversos tipos de invasões: colonizadores, traficantes, madeireiros, caçadores. Em uma área esquecida da fronteira, eles têm consciência de que não estão defendendo apenas os interesses de sua tribo, mas do próprio país onde vivem.
“A gente fica bastante preocupado porque [quer] saber até onde isso vai estar acontecendo com a comunidade. Porque depois que morre, depois que a floresta está destruída, recuperar é muito mais caro do que você trabalhar enquanto ela está de pé”, acredita Francisco Pianko.
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