Desde o ano 2000, uma das lutas do povo Ashaninka da Comunidade Apiwtxa tem sido denunciar às autoridades brasileiras a ação de madeireiras peruanas no Território nacional.
Em 2004, a Apitwxa realizou em Brasília a Semana Ashaninka Apiwtxa, com o objetivo de divulgar as dificuldades vividas pela comunidade com a ostensiva presença de madeireiras na fronteira Brasil-Peru e a constante invasão de madeireiros peruanos na Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, Território nacional.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, cumprimenta o senhor Antônio Piyãko, Cacique Ashaninka, e a liderança Benki Piyãko, durante a abertura da Semana Ashaninka Apiwtxa (Foto Rose Brasil/ABr)
Durante a semana, os Ashaninka mostraram sua arte, seus vídeos e suas iniciativas pioneiras na conservação e no uso sustentável dos recursos naturais. Também reuniram-se com autoridades governamentais e da cooperação internacional, em mesas-redondas que discutiram temas como terras indígenas na Amazônia, conservação, biodiversidade, manejo de recursos naturais, terras indígenas em faixa de fronteira e política internacional integrada entre Brasil e Peru.
A iniciativa da Apiwtxa foi coroada com uma longa matéria apresentada pelo Programa Fantástico da Rede Globo, na edição de 26/09/2004, cuja equipe de reportagem esteve na Terra Ashaninka e verificou pessoalmente os problemas das invasões que a Comunidade Apiwtxa vivia à época (saiba mais aqui).
Ainda em 2004, Benki Piyãko Ashaninka, recebeu o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, como personalidade indígena, concedido pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República em reconhecimento por sua liderança na defesa da floresta, da Terra Ashaninka e pela defesa da soberania e integridade territorial brasileira (saiba mais aqui).
O vice-presidente da República, José Alencar, ao lado da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o ministro Nilmário Miranda, da Secretaria de Direitos Humanos, entrega o Prêmio Direitos Humanos 2004 a Benki Ashaninka, no Palácio do Planalto (Foto Roberto Barroso/ABr)
Muito se fez desde então: Exército, Polícia Federal e Ibama, em ações conjuntas, desmontaram vários acampamentos madeireiros dentro do Território nacional, chegando mesmo a prender madeireiros peruanos.
Mas, apesar de todos os esforços da Comunidade Apiwtxa para fazer frente ao avanço das madeireiras peruanas, e a despeito das Instituições nacionais intensificarem a fiscalização na faixa de fronteira brasileira, madeireiros peruanos e seus maquinários continuam, ainda hoje, agindo no Território nacional, derrubando a floresta e ameaçando a vida dos povos indígenas da região, entre os quais populações de índios isolados que ainda ali vivem.
O Peru mantém, indefectivelmente, sua política econômica de intensa exploração madeireira, sem controle, sem monitoramento, sem respeito à faixa de fronteira internacional e sem preocupação com as populações locais, presentes e futuras.
Só se pode concluir que o problema continuará até que os peruanos tenham derrubado a última árvore. Ou até que o Brasil busque, com real determinação, uma política internacional integrada de gestão da floresta com o Peru.
*Leila Soraya Menezes
da Rede de Cooperação Alternativa Brasil
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